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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Abramo sabichão

  O senhor Abramo, mais conhecido como Abramo sabichão, tinha a mania engraçada e, muitas vezes, irritante, de comentar sobre a ainvenção da maioria dos objetos que alcançavam seu campo de visão. Desde criança desenvolvera tal curiosidade e falava sobre quando foram criados, porquê e por quem, e para quê foram criados.
  Sua primeira "curiosidade in ventiva" foi o ioiô. Aos três anos, ao ir fazer comprar com seus pais, ficou fascinado com o movimento de vai-e-vem que viu um garoto reger em seu ioiô. O pai de Abramo, ao pereceber a admiração do filho, comprou-lhe um ioiô e lhe disse que o mesmo surgira na China, há três mil anos, para fins de divertimento.
  Daí, a curiosidade despontou fervorosa e obrigava seus pais - após muita insistência - a pesquisarem a origem de cada objeto que lhe chamava a atenção. A mania só piorou quando aprendeu a ler e pesquisar.
 
"O jogo de damas foi inventado no Egito por volta dos anos de dois mil a.C." dizia "com a utilidade de fazer prognósticos de peças inimigas de guerra e, era conhecido inicialmente como alquerque. Ganhou o nome de damas, porque ganhou a preferência feminina na Idade Média."

"O peão foi inventado em três mil a.C., na Babilônia, para as crianças brincarem." dizia a quem estivesse por perto, toda vez que via um peão. Não importava quantas vezes o interlocutor já o houvesse ouvido dizer aquilo.

"Os patins de rodas foram inventados pelo belga Josef Merlin..." ...

  E assim ia. Não demorava muito para que todos ao redor o mandassem calar a boca.
  Um dia, ao ver sua mãe em estágio constante de tristeza, ofereceu a ela um antidepressivo e disse:

  "O anti depressivo surgiu em mil  novecentos e cinquenta e sete, inventado pelo americano Nathan Kline, que era diretor Hospital Psiquiátrico de Rockland."
 
  Sua recompensa foi um olhar fulminando de lágrimas da mãe e dois fortes tapas do pai.
  Na verdade, à primeiro contao, a mania de Abramo sabichão no mínimo era engraçada e interressante.Todos ficavam impressionados com sua incrível capacidade de memorizar tanta coisa sobre a invenção do objeto mais insignificante ao mais respeitável. Porém, ao mesmo tempo que ele sabia muito, discutia-se como isso o tornava insuportável à convivência de longo prazo. Não que não tivesse amigos, mas era muito prepotente e egocêntrico, por reconhecer que sua capacidade era única e brilhante.
  De qualquer modo, ele nunca errara um dado sequer sobre qualquer invenção e parecia sempre saber responder.
  Um dia, no entanto, Abramo, ao conversar em uma reunião de família, acabara de falar sobre a invenção do banda-aid, ao ver na perna de seu sobrinho, e acabou sendo pego de surpresa pelo garoto de oito anos, que perguntou:

  "E o senhor, tio Abramo, porquê, por quem e para quê foi inventando?"
 
  Abramo sentiu uma espécie de soco em seu estômago e peito, ao olhar esbugalhadamente para o sobrinho. Abriu a boca para que as palavras pudessem sair, mas não haviam palavras. O garoto ficou o encarando, esperando a resposta e niguém conseguia acreditar que Abramo nada falava. Ninguém parecia acreditar que Abramo sabichão, o super memorioso, não possuia resposta.
  Foi a fatalidade daquele homem. Saber tudo sobre o tudo, mas não saber nada sobre ele próprio.
  Foi o fim da prepontete inteligência de Abramo sabichão. Porém, alguns até discordam que ele possuísse alguma, já que nunca encontrou as respostas para a pergunta do sobrinho.