Literatura - Expressa

Literatura - Expressa - Literatura!!!







segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Preste atenção

  Eu preciso dizer uma coisa: não há muito mais a ser dito.

  Tudo já foi dito sobre a raiva, sobre a vergonha, sobre o ódio e o rancor

  Sobre o escárnio, sobre o medo, sobre a vingança e, até sobre o nada.

  Não há muito mais a ser dito. Só se diz o que importa, e o que mais importa nesse mundo?

  Tanto se fala sobre a felicidade, sobre a alegria e a compaixão. Tanto se fala sobre o amor.

  Mas pouco se diz. E será que importa dizer? Será que importa ao mundo amar e ser feliz?

  Não há muito mais a ser dito. Mas o que há a ser dito, será que me atrevo a dizer?

  Aquele que disse o pouco que falta, e que, na verdade, é tudo que importa, foi morto. Jesus, por tuas palavras, foste parar na cruz. E ainda perdoaste o mundo?!

  Esse mundo que não pára sequer um segundo para te escutar? Se não escutam ao salvador, de que importa dizer o que falta ser dito?

  Não há muito mais a ser dito sobre a vida, sobre a alegria, sobre os céus ou sobre a terra, sobre o perdão, sobre a compaixão. Não há muito mais a ser dito sobre o amor. Porque quem quer saber dele?

  Então o Senhor invade minha mente e responde que ainda há tudo a ser dito sobre tudo, até sobre a discórdia, a raiva e o rancor. Ainda há tudo a ser dito.

  Mas precisa dizer? Ou todos já não sabem o que é certo?

  Preste atenção. Ainda há muito a ser dito. Mas é preciso?

 Acho que você já sabe a resposta e elas não são feitas de palavras para se dizer, mas de sentimentos para se construir [um mundo melhor].


"Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração."


                                                               Feliz Natal!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Se a melancolia, sorrateira e fria
Abater-te em dia de verão
Levante a cabeça; olhe para o céu; reflita
Aprecie a beleza de cada paisagem,
Cada sorriso
Cada emoção
Rochedos não são montanhas
Problemas não são eternos;
Miragens não são verdades,
Tampouco verões são invernos

Dirijo-me a ti como a mim motivaste
Cantaste da música a melodia
E a penumbra em mim, nuvem sombria
Que antes de mim ceifava toda a alegria
Foi-se, e com ela o tolo em mim afastaste
Quando o que há de melhor em mim cativaste

Se a montanha afinal for alta em excesso,
Não apenas dê-lhe a volta;
Toma para ti asas, voa mais alto, busca o sucesso
Pois ainda que seja a estrada torta,
A rota que alça-te aos céus
É tão bela, singela e verdadeira
Como os sonhos que em ti tenho visto.

Bem, este aqui foi mais por conta da mensagem, que convenhamos, ainda que de todo ingênua, é dotada de importância; certamente terei que refazê-lo. Rima pobre, estrutura frágil; decididamente mal feito. Enfim, tempos difíceis, meus escritos estão empoeirados, sem capricho e nada charmant (risos). Depois de umas boas férias talvez melhore.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Terceriro canto à Atlântida: Senhor da discórdia

Escorre o veneno
pela boca escancarada
palavras infames
de um mestre espadas

Podre suor
misturado ao sangue
de inocentes vários
Sangue do ódio
misturado ao sonho
de ser um rei válido

Pobre criança
incide sobre a responsabilidade
de ser realeza
Incita o ódio,
a ira e a falsa alegria
desse homem de vida negra

E não diga a ira
que lhe tange o peito
nem o esporro
que não sai para os lábios
diga a mente
que é mais ávida que a faca afiada
raiva calada
miserável notório

Reflete o espelho quebrado
perigoso pedaço dessa história
quem sabe soubessem antes
que o fator degradante
foi esse
O Senhor da Discórdia.

sábado, 6 de novembro de 2010

Harmonia


Perdida em minha própria harmonia
Se o mundo mudar amanhã
Eu jamais saberei.

domingo, 31 de outubro de 2010

Há algo nela que me faz sonhar


No meio do caminho ela apareceu,
E antes que eu pudesse perceber,
O frio em meu peito sua luz enterneceu
E o que há de melhor em mim fez renascer

Há algo nela que me faz sorrir,
Ir e vir num sonho viajante,
Por seu semblante belo e tranqüilo,
Meu refúgio contra a dor e o perigo.

Há algo nela que me faz sentir,
O pulsar alto e inquietante,
De meu coração errante,
Quando dela da voz a melodia posso ouvir

Há algo nela que me faz pensar,
Que a tênue linha entre o odiar e o amar,
É frágil e inocente, mas mutável e envolvente;
Carente como chama prestes a se apagar.

Há algo nela que me faz sonhar,
Buscar um futuro de nós dois,
Onde juntos podemos sorrir, cantar, viver
Sermos nós mesmos e um e o outro,
Pintar um quadro,
Dançar na chuva,
Rolar na grama do jardim;
Brincar de amar,
Amar brincando,
Sentindo teu perfume doce como o do jasmim

Há algo nela que me faz amar,
Querer estar a seu lado,
Em seu colo permanecer deitado
E mil juras proclamar
Todas sinceras
Nem todas eternas
Que durem até onde o tempo nos deixar.


Faz tempo que eu não postava um dos meus poemas por aqui, e esse acabou, literalmente, de ser escrito agora a pouco nesta noite do dia 31/10/2010...A história desse poema...Bem, pode parecer meio piegas mas vamos lá: estava eu ouvindo "Something" dos Beatles, com a guitarra na mão acompanhando a melodia...Ora essa música é verdadeiramente bela, Frank Sinatra inclusive afirmou ser essa a mais bela canção de amor na opinião dele. O fato é que ouvindo essa música, vieram-me muitas coisas à mente, e não pude resistir ao impulso de escrever algo...Nasceu então esse poema, simples, mas bastante sincero. Então...ei-lo aqui. Ah, gostaria de agradecer a Bruna, principal responsável por me fazer voltar a escrever depois de um hiato tão grande (risos), por isso se alguém vier a gostar desse poema, nem que seja numa galáxia muito distante (risos) vai ser por causa dela. E obrigado ao George Harrison, autor de músicas únicas; sempre aprendo algo com elas...Aufwiedersehen




terça-feira, 12 de outubro de 2010

O sabor da inocência


  A ordem da mãe para que o garoto entrasse foi, definitivamente, a última. E veio com um recheio amargo de uma, há muito prometida, palmada.
  E se o gosto da ameaça era amargo, ele não queria nem saber do da palmada.
  Relutante, entrou em casa, tomou banho com gosto de repolho e comeu uma janta que não lhe agradou nem um pouco o estômago.
  Um pouco de tv com sabor de chocolate quente, uma história com sabor de chiclete azedo, mas cheio de adrenalina, um beijo adocicado dos pais e o garoto exausto caiu no sono, que cheirava a mel e terra molhada.
  Era assim que aquele rapazinho gostava de ver e sentir as coisas: tudo era o do sabor que o mundo dos cheiros e paladares deveria conferir. Tudo para tornar a aventura no parque de diversões ainda tão inexplorado, o mundo, algo mais condizente com o jeito que tudo deveria sempre ser.
  O céu limpído da nova manhã tinha gosto de cereal do capitão pirata. Já,o nublado, tinha gosto de leite morno e biscoitos.
  As margaridas tinha gosto de panquecas. Já, os girassóis, cheiravam à gambá, algo que o garoto nunca gostaria de provar.
  A escola com os amigos tinha gosto de brigadeiro, daquele que alimentavam o coração. Já o dever de casa...ele nunca acharia um gosto que fosse tão ruim, talvez brócolis e feijão.
  A mãe cheirava à mais bela flor do mundo. E, o pai, à bolo de festa.
  E depois com o sono com sabor de mel e aroma de terra molhada, lá estava o garoto de pé novamente. Pronto para mais brigadeiro e brócolis, cereal do capitão pirata e chiclete de adrenalina, panquecas, chocolate quente, biscoitos, rosas e bolos de festa. E, ao final do dia azul claro, que, infelizmente, punha fim à mais um dia no parque de diversões, havia aquela velha e azeda ameaça da mãe, cujo gosto ele esperava nunca descobrir.

 Ê saudade da infância! Hoje em dia parece que há muito mais gostos e aromas ruins do que bons. Mas acredito que tudo seja uma questão de tentar recuperar aquela antiga e alegria inocente. É difícil, mas é possível.

sábado, 2 de outubro de 2010

Pelo bem maior

Pelo bem maior
vamos à luta
de cacos e pedras
armas e quebras
contra ideias letais

Vamos espalhar terror
pela rua
matando a inocência
dos meros mortais

Pelo bem maior
marquemos a carne
com fogo de ódio
dor
e destruição

Queimemos as casas
que de nós discordam
aos tolos, a mensagem
de aniquilação

Pois cabe ao homem
derrotar seu inimigo
aquele que impede
a ordem e o poder

Daremos aos livres
a carta do inferno
pela rebelião
que nos impede de vencer

Pelo bem maior
Morte
Ganância
e poder
Pelo bem maior...

Votem com consciência.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Abramo sabichão

  O senhor Abramo, mais conhecido como Abramo sabichão, tinha a mania engraçada e, muitas vezes, irritante, de comentar sobre a ainvenção da maioria dos objetos que alcançavam seu campo de visão. Desde criança desenvolvera tal curiosidade e falava sobre quando foram criados, porquê e por quem, e para quê foram criados.
  Sua primeira "curiosidade in ventiva" foi o ioiô. Aos três anos, ao ir fazer comprar com seus pais, ficou fascinado com o movimento de vai-e-vem que viu um garoto reger em seu ioiô. O pai de Abramo, ao pereceber a admiração do filho, comprou-lhe um ioiô e lhe disse que o mesmo surgira na China, há três mil anos, para fins de divertimento.
  Daí, a curiosidade despontou fervorosa e obrigava seus pais - após muita insistência - a pesquisarem a origem de cada objeto que lhe chamava a atenção. A mania só piorou quando aprendeu a ler e pesquisar.
 
"O jogo de damas foi inventado no Egito por volta dos anos de dois mil a.C." dizia "com a utilidade de fazer prognósticos de peças inimigas de guerra e, era conhecido inicialmente como alquerque. Ganhou o nome de damas, porque ganhou a preferência feminina na Idade Média."

"O peão foi inventado em três mil a.C., na Babilônia, para as crianças brincarem." dizia a quem estivesse por perto, toda vez que via um peão. Não importava quantas vezes o interlocutor já o houvesse ouvido dizer aquilo.

"Os patins de rodas foram inventados pelo belga Josef Merlin..." ...

  E assim ia. Não demorava muito para que todos ao redor o mandassem calar a boca.
  Um dia, ao ver sua mãe em estágio constante de tristeza, ofereceu a ela um antidepressivo e disse:

  "O anti depressivo surgiu em mil  novecentos e cinquenta e sete, inventado pelo americano Nathan Kline, que era diretor Hospital Psiquiátrico de Rockland."
 
  Sua recompensa foi um olhar fulminando de lágrimas da mãe e dois fortes tapas do pai.
  Na verdade, à primeiro contao, a mania de Abramo sabichão no mínimo era engraçada e interressante.Todos ficavam impressionados com sua incrível capacidade de memorizar tanta coisa sobre a invenção do objeto mais insignificante ao mais respeitável. Porém, ao mesmo tempo que ele sabia muito, discutia-se como isso o tornava insuportável à convivência de longo prazo. Não que não tivesse amigos, mas era muito prepotente e egocêntrico, por reconhecer que sua capacidade era única e brilhante.
  De qualquer modo, ele nunca errara um dado sequer sobre qualquer invenção e parecia sempre saber responder.
  Um dia, no entanto, Abramo, ao conversar em uma reunião de família, acabara de falar sobre a invenção do banda-aid, ao ver na perna de seu sobrinho, e acabou sendo pego de surpresa pelo garoto de oito anos, que perguntou:

  "E o senhor, tio Abramo, porquê, por quem e para quê foi inventando?"
 
  Abramo sentiu uma espécie de soco em seu estômago e peito, ao olhar esbugalhadamente para o sobrinho. Abriu a boca para que as palavras pudessem sair, mas não haviam palavras. O garoto ficou o encarando, esperando a resposta e niguém conseguia acreditar que Abramo nada falava. Ninguém parecia acreditar que Abramo sabichão, o super memorioso, não possuia resposta.
  Foi a fatalidade daquele homem. Saber tudo sobre o tudo, mas não saber nada sobre ele próprio.
  Foi o fim da prepontete inteligência de Abramo sabichão. Porém, alguns até discordam que ele possuísse alguma, já que nunca encontrou as respostas para a pergunta do sobrinho.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Amor de irmão

   
   Estava eu cuidando de minhas rotineiras atividades vespertinas, quando meu irmão parou à minha frente, fazendo uma careta horrível, inusitadamente detendo minha atenção. E perguntou:

 "Tu gostaria de mim se eu tivesse essa cara?"

  Em mais umas das minhas muitas indagações acerca do convívio familiar, olhei séria nos olhos dele, perguntando-me de onde ele havia tirado uma pergunta tão idiota. E retruquei:

"E quem te disse que eu gosto de ti?"

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Se você não existisse...

Tivemos uma briga.
Mais uma decepção que você me causou. Dentre muitas outras.
Mais uma vez que você não soube medir os limites das coisas que você diz e faz. E eu o odiava tanto por isso.
Eu odiava a sua mania de julgar os erros dos outros, quando você mesmo os comete.
Odiava a sua falta de noção a respeito do que é tolerável e do que é ridículo. E como continuava a bater na mesma tecla.
E odiava como você tentava resolver tudo com um sorriso sapeca e um canto desafinado da música de nossos momentos de glória.
Aquilo tudo já me havia saturado a paciência.
Eu poderia dar-lhe um soco se me dirigisse a palavra mais uma vez. E também poderia pedir aos céus para que você nunca houvesse existido. Porque você era, incontestavelmente, o pior amigo do mundo.

Porém, naquela noite tive um sonho; ou pior, um pesadelo, talvez o mais terrível de toda a minha vida.
Em meu pesadelo, você não existia. Não é que tivesse morrido ou ido embora, você, simplesmente, não existia.
Então, você não estava lá, quando eu tinha cinco anos, naquela partida de queimado na escola, onde, na realidade, era onde havíamos nos conhecido.
Você não estava lá para brigar ao meu lado quando arrumei briga com os riquinhos da turma. E, como você não estava lá, acabei apanhando.
Não estava lá para assumir a culpa quando quebrei a janela da vizinha. E como castigo dos meus pais, não fui ver aquele maravilhoso show do circo.
Quando caí da bicicleta, antes daquela grande tempestade, você não estava lá para me levar para casa antes da água cair do céu. Então acabei gripando e deixando a bicicleta para trás.
Não estava na lendária partida de vôlei da quadra 16, para fazer aquele grande levantamento da nossa vitória. Meu time perdeu.
Quando a tempestade caiu naquele dia na sexta série, em que a tarde parecia noite e o chão tremia com a trovoada, você não estava lá para nos distrair com suas piadas e, dali em diante, passei a morrer de medo dos trovões.
Não estava no meu décimo terceiro aniversário, para me dar um estojo de pintura e fazer-me descobrir meu grande sonho.
Fiquei de recuperação em matemática, porque o professor que deveria passar dias e dias ajudando-me a tirar a nota máxima na prova bimestral não existia. O professor que deveria ter sido você.
E não estava lá para enxugar minha lágrimas quando quebrei o coração pela primeira vez, e, logo em seguida, apresentar-me o meu primeiro grande amor.
Você não estava lá em todos os momentos que havia estado, no mundo real. E, por causa disso, no sonho, não vivi vários dos momentos mais felizes de minha existência. Então, tornei-me alguém completamente diferente do que eu era na realidade, do que eu tinha tanto orgulho de ser. Tornei-me alguém infeliz.

Então, acordei exaltada, olhando ferozmente o quarto ao redor, para ter certeza de que fora apenas um pesadelo. Para ter certeza de que você existia e de que eu havia vivido grandes momentos ao seu lado. Acordei para ter certeza de que você estava lá no jogo de queimado, na luta contra os riquinhos, no dia em que quebrei a janela, no aniversário em que me ajudou a descobrir meus sonhos, no dia da queda da bicicleta, dos trovões, e quando sofri minha primeira desilusão amorosa.

Havia uma terrível sensação em meu peito, como se eu houvesse perdido meu chão. O tipo de coisa que só se percebe quando vemos o quão insignificantes somos sem aqueles que nos fazem brilhar.
Depois disso, o que se nota é que as brigas fazem parte de qualquer relação. Se você sabe aproveitá-las, elas servem até para fazer tudo melhor. Nós conseguiríamos lidar com tudo isso. O que eu não conseguiria lidar, era com a infelicidade que eu levaria se você não existisse.
Então, a palavra final é: Que bom que você existe, amigo!

Esta é minha homenagem [um dia atrasada] ao dia do amigo. Já dizia aquela conhecida, bela e marcante música: "Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito...". Então, para que eles nos guardem nos deles também, saibamos valorizá-los. Eles são os anjos[assim como a família] que Deus colocou no nosso caminho, para o cumprimento de nossa missão.

domingo, 18 de julho de 2010

Soneto de um saudosismo nonsense

Suspiro cansado,
De uma lembrança do passado,
De um reencontro que não acontece
Mas que ao coração enternece.

Vôo da alma, em busca de outra alma,
Na qual apenas o encontro nos acalma;
Beleza vítrea, pura como cristal;
De um sentimento, uma história que nunca chega ao final.

Um mar às braçadas certamente eu atravessaria
Para findar essa sina de todo dia,
E serrar em meu peito os grilhões que o prendem

A saudade é boa quando é boa a memória;
Se o desgosto e a mágoa, entretanto subjugarem a lembrança...
Então meus amigos, aí é outra história.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um conto de desilusão

"Eu me pergunto quanto tempo leva para dizer 'eu te amo'." indaguei em baixo tom, fitando o nada.

"Levou-me todo o tempo até achar você." ele respondeu, sem que eu esperasse.

Sorri sem muita vontade, pensando, melancolicamente, em como a vida não nos deixa ter o controle sobre nada. Era uma locomotiva que não obedecia as ordens do maquinista. Virava quando não queríamos virar, freava quando era para seguir em velocidade máxima, seguia em velocidade máxima quando era para frear, e bem aí sempre nos estrepávamos.

E, ali, debaixo de um céu estrelado de outono, sentada perto daquele homem, a distância entre nós nunca pareceu tão grande, e, a falta de autonomia sobre o destino, tão real.

Pensar que um dia fomos amantes, que nos beijamos ardentemente e enlaçamos tardes venturosas sob o sol. Pensar em todas as vezes que dormimos sobre o telefone, depois de horas nos falando, e os momentos esperando, com raiva, no estacionamento, porque ele havia se atrasado. As danças sem música que tomávamos perto do bosque e as bobas brincadeiras de apaixonados. Pensar em todos os planos, para uma vida toda, que fizemos juntos e um dia, em que ele se ajoelhou aos meus pés, e me prometeu a eternidade.

Se o tempo fosse uma estrada, aqueles dias estariam em outra linha. Entre o antes, o hoje e o depois, só cabiam mágoas agora, e um vazio imenso, que nunca poderia ser preenchido, nem por olhares, nem por palavras e, muito menos, por amor.

Nesse momento, olhamos um nos olhos do outro. As cores deles estavam tristes. Depois de tudo que havíamos construído [mas que havia sido brutalmente destruído], em nossa proximidade distante estávamos, tristemente, tentado dizer qualquer coisa. Mas já era tarde demais para dizê-la.

Muitos anos depois, as palavras "eu te amo" continuavam entaladas entre os lábios que nunca mais se abririam.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Bola. Lágrimas. Lição.

No vestiário: a concentração. Palavras corajosas para algo que pode ser consagrador.


Na entrada do estádio: a euforia demonstrada em palmas, gritos e apitos. Para algo que pode ser consagrador.

Na saída do vestiário: a fila nervosa. Lado a lado daquele que pode te derrubar. Segura a mão, da criança que te transmite esperança. Espera que jogue com a mesma inocência da criança. Só espera. Mas vale tudo.

O juiz pega a bola. Provavelmente o momento mais lindo da partida que ainda não começou.

Sinal da cruz ao entrar no campo.

Forma- se a coluna. E torcedores e jogadores interagem, ao som do hino inspirador, que demonstra o amor à pátria.

Batem-se palmas. Arrumam-se no campo. Capitães trocam cumprimentos. Torcedores preparam-se para o espetáculo. Ali, tudo mudaria. Seria tristeza ou extrema alegria.

A moeda gira.

Bola no centro.

O apito ressoa.

Começa o espetáculo.

No campo: o coração bate a duzentos mil, com uma força capaz de tremer um país inteiro.

Na arquibancada: os pescoços esticados para ver quem teria a primeira chance de chegar na grande área.

Uma tentativa. O pescoço estica ainda mais. É agora.

UHHHHHHHHHH. Grito de frustração.

Segunda tentativa. Os olhos faltam saltar das órbitas. A garganta reclama a proferir tantos gritos. Até que acaba em mais uma frustração.

No campo: não há som algum. Toda concentração é pouca. A qualquer momento, os pés podem tocar na bola, para brilhar no jogo...ou por tudo a perder.

Vacilo do adversário e a bola arranca pra frente, guiadas por pés apressados.

Na arquibancada: no momento que os olhos respiram, o jogador aparece, e arrancam um gol da garganta.

No campo: Alívio!

Mas então jogo empaca.

Na arquibancada: xinga xinga.

No campo: ninguém consegue se entender.

Um vacilo.

E tudo vai a perder.

Decepção.

Na arquibancada: um grito de quase dor.

No campo: tem-se que segurar o jogo.

Mas no segura jogo, time não se entende.

Outro vacilo.

Virada do adversário.

Na arquibancada: o grito agora é de dor. A bola atirada ao gol, é como uma navalha, cortando fundo o peito, sem piedade.

No campo: os olhos não conseguem acreditar. Leva-se a mão à cabeça. E agora, meu Deus? O bicho vai pegar.

Mas o bicho pega tão forte, que tudo vai a perder.

Na arquibancada: teme-se olhar o relógio. O tempo é martírio para uma pátria derrotada.

No campo: o desespero. A carga de milhões de pessoas sobre os ombros, ou melhor dizendo, sob os pés.

Mas os pés são fracos demais para agüentar. Fracos demais para dominar a bola sobre a qual o mundo todo está pondo os olhos.

A bola gira e tudo gira ao redor dela.

Uma chance.

Frustração.

Na arquibancada: UHHHHHHHHHHHHHHHHH.

No campo: xinga. E com as mãos na cabeça: Ah! Meu Deus.

As mãos são mais urgentes e tremem como um terremoto ao pedir a ajuda de Deus.

Engraçado é que, quando se ganha, erguem-se os braços aos céus. Quando se perde, não há gratidão para encarar o azul acima de tudo.

Na arquibancada: alguém cai. Já sentindo que não há mais motivo para estar ali.

No campo: ainda há esperança. Mas o que reina é o desespero fatal, o desespero que pode fazer ser tudo ou nada.

Acréscimos.

A torcida decai. Mas ainda há alguns poucos na esperança, no campo e na torcida.

E se a esperança é a última que morre, muita coisa morreu.

O apito soa.

Fim de jogo.

Morre o grito. Morre o sorriso. Morre o orgulho. Nasce a lágrima, que corre como um rio e deságua no choro.

Chora a torcida, chora o técnico, chora o jogador.

O momento em que torcida e jogadores se conectam. Infelizmente, é para derramarem juntos a esperança de um “agora vai”. A esperança de mais dias de euforia. De mais dias de folga. De mais dias de nação unida. De um dia próximo, em que se tocaria o ouro da consagração.

O estádio se esvazia. Mas o mais vazio que fica, é o peito.

Fim de jogo.

Todo mundo, para casa agora. Para ver outro tomar o ouro que deveria ser seu.

Mas é assim mesmo. Para alguns ganharem, outros tem que perder. As coisas acontecem e nem sempre é o dia de elas acontecerem para nós. Tudo que se leva são lágrimas. Mas, se forem espertos demais para aprender, leva-se também úteis lições.

Que ainda assim. Fique o orgulho no peito. Que ainda assim, fique o amor à camisa e não ao prêmio. Porque esta é lição que deve ficar. Só se deve levar para casa, o merecido.

Então os dias recomeçam.

A bola se esconde por quatro anos.

Só que ela um dia ela volta. Ela sempre volta.
E que quando ela tocar nossos pés novamente, brasileiros, seja para termos a convicção de que, dessa vez, é para gritar novamente o canto que há tanto tempo está preso nas nossas gargantas: É CAMPEÃO!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Selva

Todos os dias
é um vai e vem
de caras e bocas
e sapatos de luxo

Cidades presas
a teorias perfeitas
que não agem
mas sabem enrolar

Tirem essas máscaras
que rodam nas esquinas
e parem de roubar atenções
pois elas não estão
estampadas em liquidações

Índios presos
portugueses soberbos
escravos falecidos de tanto apanhar
valores medíocres
brilhando ao sol e luar

Tudo rola
como numa selva
uma selva de pernas
ricas e podres
que chutam cabeças

Os valores estão na mesa
e cabeças vão rolar

A mão que afaga
é a mesma que acaba
acaba enganando
mentes leais

Tudo rola como numa selva
[de falsos!]
iludem nações
valores ladrões

Cuidado!
Os valores estão na mesa
e cabeças vão rolar!
Selva!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Em um dia o Destino pode mudar...

Um dia, um simples dia,
Pequeno intervalo de tempo,
Invento travesso do destino,
Menino faceiro e risonho
Que não cansa de brincar.

Um dia, um simples dia,
Nesse breve período tudo pode mudar,
O forte pode perder,
O fraco pode ganhar
E o amor do solitário o coração pode transformar.

Um dia, um simples dia,
O tolo pode lograr
E o astuto por ele ser enganado;
O vento pode soprar
E de grão em grão a montanha, (antes sólida)
Pode ,melancólica, vir a baixo

Em um dia, um simples dia,
Tudo pode sempre mudar,
Mas ninguém ao certo saberá,
Se apenas inerte esperar,
Enquanto o tempo passa sem parar:
É preciso o próprio destino buscar,
E com as próprias forças lutar,
Para não esperar em vão uma ventura que não virá...

sábado, 19 de junho de 2010

Porta aberta


    A vida é uma só. E só a havia uma vida. Uma vida dura, rotineira e vazia. A vida entre quatro paredes.
    Acordar e ar de cara com um teto de concreto. Levantar e por os pés em um chão plano e frio. Olhar para os lados e só ver uma cor: a da parede cor de anil.
   Malhar observando uma paisagem paradisíaca pintada em um quadro pendurado na parede. Comer diante de uma televisão, que não mostrava muito mais do que um mundo cruel. E trabalhar horas a fio, novamente entre quatro parades.
  Só que um dia, havia algo estranho. Uma brisa mais forte e fria, um algo a mais, uma brecha na parede. Alguém havia deixado a porta aberta. E podia-se ver, pela brecha, um mundo cores vivas: verde, azul, marrom, laranja, vermelho; e um rol de cores que eu nunca havia visto - ou notado.
  Morava defronte a um bosque, e só agora havia percebido.
  Com cautela, aproximei-me do ambiente alheio, estranho, temendo um território que, há muito, a humanidade havia abandonado.
  Um pé para fora. Nada aconteceu.
  Outro pé. Um passáro assoviou inocentemente em uma árvore próxima.
  Haviam muitas árvores, uma modesta trilha e folhas verdes, vermelhas, amarelas e ressecadas caídas no chão, como um tapete da natureza que se estendia além. O tapete do homem, era apenas uma mera imitação.
  O cheiro era de nada, mas um nada de tudo, agradável, confortante e puro.
  E acima, havia um céu limpído, incrivelmente azul, o qual a cor, tinta nenhuma conseguiria reproduzir com perfeição. O teto de uma casa sem paredes. A tinta mágica da casa de Deus.
  Foi como se, pela primeira vez, eu pudesse ver tudo claramente; como se, finalmente, meus olhos houvessem encontrado a razão para existirem, meu nariz, para cheirar, e meus pés, para andar.
  Com medo de que o mundo sem paredes pudesse desaparecer, olhei cuidadosamente para trás, para o mundo que ainda tinha paredes - a prisão em que eu sempre havia vivido. Ele que parecia estranho agora, e tão cruel. Senti-me aborrecida, como se tivesse perdido todo o tempo do mundo com algo que não me valera muito a pena.
  Olhei para a frente novamente, para o lugar amigo e desconhecido que se estendia adiante e que, intuitivamente, eu agora tinha tanta vontade de abrigar.
  Tomei uma decisão inconsciente.
  Segui em frente. Sem mais olhar pra trás. E deixei a porta aberta, para que outros pudessem me seguir.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Jean-Pierre (Parte 3)

“Alto, magro por demais, cabelos noturnos e longos cujas pontas tocavam-lhe os ombros, dando-lhe certo ar jovial; sua idade, no entanto, difícil dizer. Rosto fino, apesar dos longos e certamente difíceis dias sob o sol e ao sabor do tempo, que sempre deixa suas marcas na face dos andarilhos errantes. Passava a maior parte do tempo nas imediações de sua humilde residência, freqüentando a ville apenas ao crepúsculo, quando os ciganos armavam suas tendas na praça principal e ouvia-se o ruído de seus instrumentos de cordas e seus cânticos antigos, vindos de lugares que só eles mesmos deveriam saber; perfumes exóticos preenchiam o ar e o mistério dos sortilégios contribuía para emanar a aura mágica das noites de Estrasburgo. Jovens impetuosos cortejavam as damas de seus corações; nobres, sentados nas melhores tavernas, discutiam interesses comuns, negócios e política; crianças travessas brincavam e gargalhavam umas com as outras, furtando docinhos das tendas ou correndo ao redor das jovens donzelas, que como flores em botão, iam desabrochando à medida que o tempo passava alcançando a vida adulta. Sua silhueta alta e magra encaixada num pequeno espaço entre duas tendas, onde ele próprio armava a sua, lá estava o titeriteiro, divertindo crianças com seus bonecos, suas marionetes; surpreendendo os adultos com suas pequenas invenções, não perdendo a oportunidade de exercer seus galanteios, estendendo sempre às jovens damas uma rosa vermelha e o desejo de vê-las em outra noite tão bonita quanto aquela.”

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Cadê?

Cadê a árvore que estava aqui?

O machado derrubou.

Cadê o pássaro que cantava em cima dela?

A serra elétrica silenciou.

Cadê a flor que nascia aqui?

A empresa pisou.

Cadê o rio que nascia ali?

A represa secou.

Cadê os campos que ficavam lodo adiante?

Uma corporação devastou.

Cadê o céu que ficava logo em cima?

A máquina apagou.

Cadê o azul líquido que se estendia até o infinito?

O ouro negro sujou.

Cadê o clima que se tinha aqui?

A poluição mudou.

Cadê a paz que se tinha aqui?

O homem destruiu.

Cadê o homem que vivia aqui?

A natureza se vingou.

Aqui está minha homenagem ao dia do Meio Ambiente, 5 de junho, hoje. Que vocês, leitores, ao lerem este texto, parem para refletir sobre o que estamos fazendo com o planeta em que vivemos. Façam alguma coisa e incentivem os outros a fazerem o mesmo, pois temos que ser gratos por tudo que a natureza nos proporciona, pois, caso nao formos, temo o que nos possa acontecer.
Um dia li uma frase que nunca esquecerei. "A natureza não se defende. Ela se vinga.". E espero que vocês nunca a esqueçam também.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Um canto à juventude


Somos todos jovens

Senhores de nossos futuros

Fortes e belos

que não temem o mundo
que não sabem que a vida é curta...

e talvez, para quem sabe fazê-la assim, feliz

Pois o horizonte que não conhecemos ainda

aguarda-nos

adocicado horizonte...

E daqui a algum tempo

esqueceremos nossas antigas feições

Mas o que fizemos e o que representamos

 nos marcarão

como uma lembrança constante

Seremos heróis

jovens que não tiveram medo de lutar,

brigar,

sorrir,

  vencer...

 e serem felizes.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uns Riscos.

Um Risco.


Sem muita significância.

Mas de grande Inspiração.

Dois Riscos.

A mente fumaça uma criatividade imensa.

Três riscos.

Uma forma feita.

Uma nova vida gestante.

Quatro riscos.

Tudo apenas olhos enigmáticos.

Cinco Riscos.

Nariz centralizado dá o primeiro suspiro de vida.

Seis Riscos.

Decifram (em parte) os olhos enigmáticos: mas ela está sorrindo, apreensiva ou calada?

Sete Riscos.

Tudo ganha forma. A forma ganha vida. A vida ganha em vidas.

Oito Riscos.

O corpo idealizado é traduzido em papel.

Nove Riscos.

A beleza corporal e intrínseca parece querer sentir o mundo ao redor.

Dez Riscos.

-“Fala!”

E assim ela se fez!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jean-Pierre (Parte 2)

Abrindo o velho volume, Jean lê um curioso epíteto: “Aquele que ao astuto tenta ludibriar, certamente arrepender-se-á e ao que ao ouro de tolo exerce domínio e arrogância, decerto mais tolo será do que nestas páginas poder-se-ia registrar, pois apenas ao valor do trabalho o ouro pode recompensar”. Enchendo os pulmões de ar, o garoto assopra, levantando poeira do livro, que como tudo no velho sobrado, parecia surgido da própria poeira. A linguagem, Jean reconheceu, era o francês arcaico de uso corrente há séculos atrás no sudeste da França. Voltou a avidamente a ler.
“Neste ano de 1684 de Nosso Senhor, este monge que aqui subscreve, inicia as crônicas dos fatos que às suas pupilas marcaram para sempre, da fabulosa terra de Estrasburgo...”. Incrível, surpreendeu-se Jean; coincidentemente essas crônicas tratavam de sua cidade, mas em outro tempo, tempo não tão distante, mas certamente inquietante, tempo de mudanças, o alvorecer em meio a Trevas. Virou a página retornando ao livro.
“Pouco tempo depois de reformada nossa Santa Catedral, mudou-se para aqui, vindo do Leste, para além da Cidade Eterna, um magiar que da vida era títere. Portando o que podia carregar, dentre caixas, ferramentas e o pouco dinheiro que tinha, logo conseguiu, próximo a floresta moradia modesta. Os campônios curiosos, dentre as árvores espreitavam, a fumaça azulada vertida pela longa chaminé, enquanto sentado ao pôr-do-sol, o estranho empunhava um alegre flautim”.

Alguma paz


"Dei asas ao tempo
esquecendo as dores que passam enevoadas
Que voe sem pressa
e tão somente ache o regresso
quando houver descoberto
os segredos da alma."

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O tempo errante do fazedor de relógios

    Morava no final da rua Salubre, em um luxuoso casarão que pertencia à sua família desde que o tempo é tempo. Contudo, não se pode dizer exatamente que a casa habitaram. Cada membro antepassado passara mais tempo no pequeno galpão no fundo da propriedade. Uma oficina. Na porta de madeira, a pintura já descascando, e um relógio com ela pintado marcava um horário em ponteiros que nunca mudavam de lugar: 07:40. A hora em que o relojoeiro começava o trabalho do dia.
    Fazia relógios de quase todos os tipos e tamanhos. Não todos os tipos, porque odiava relógios digitais. Dizia serem uma ofensa a arte de marcar o tempo. Um elemento tão primoroso merece ser contado com ponteiros feitos de metal precioso, e a estrutura do objeto merecia um refinamento digno da beleza das coisas mais belas. Nada de traços grotescos. Só delicadeza. Eram os relógios mais caros da região. E os mais bem feitos que qualquer um jamais vira. A demanda sempre fora grande.
   E era "negócio de família". Não, não tradição. Ele não gostava que assim denominassem. Tradiçao era uma palavra fria demais para um homem que nunca se apercebia da passagem do tempo. Para ele, cada relojoeiro do qual era descendente ainda praticava tal profissão. Não estava mortos. Todos incorporavam seus espíritos e se tornavam um só toda vez que o relojoeiro fazia seus relógios. E esse foi seu maior erro.
   Graças à seus relógios, esqueceu de viver. Esqueceu que havia um mundo além da oficina. Esqueceu que haviam pessoas passendo nas ruas, folhas balançando ao vento, rios refletindo o céu, divertidas e estreladas noites em bares e restaurantes. Esqueceu que todos crescem, e não nascem já grandes demais. Apaixonam-se, casam e tem filhos...netos. Esqueceu de amar alguém. E, acima de tudo, esqueceu que todos morrem. Esqueceu que o tempo passa...até mesmo para um fazedor de relógios.
   Um dia, na oficina, um forte baque no coração. Sem conseguir ficar de pé, o relojoeiro caiu no chão. À frente, um velho espelho, nunca usado, e uma imagem que ele nunca havia percebido. Na superfície do espelho, flutuava um rosto pálido e velho demais para erguer-se sobre qualquer pescoço. Pensou que era o rosto de seu avô, ou seu pai, pois parecia-se com eles. Por fim, percebeu o cruel. O velho de cabelos brancos era o próprio relojoeiro, ali, caído ao chão como um marionete.
   Perguntou-se como havia envelhecido tanto? Quando havia, ao menos, envelhecido?
   O tempo sempre pareceu ao relojoeiro pertencer. Tão esplêndido tal elemento se fazia nas mãos dele. Fizera do tempo mais do que um sustento. Dele substraíra sua vida. Uma obra de arte.
    Um fatal obra de arte.
     Dizem que, no fim de tudo, lembramos de tudo que vivemos. Aqui há uma exceção. Ele não se lembrou de tudo o que viveu. O que de tão interessante em passar a vida literalmente toda em uma oficina de relógios? Lembrou-se do que não viveu; e foram tantas as coisas! Um pensamento doloroso demais.
     Sem banhos no mar, ou na chuva. Sem danças empolgantes, ou admiração das estrelas, ou bolhas de sabão. Sem jogos de futebol. Sem afeto. Sem mulher. Sem filhos. Sem vida; o maior arrependimento.
     Eram os últimos segundos quando percebeu que o tempo a ele não pertencia, como sempre imaginara. Nunca lhe havia pertencido. O tempo não o havia poupado, mesmo com todo cuidado que ao mesmo dera. Amaldiçoou-o por isso.
    Um último suspiro e qualquer pensamento seu silenciou-se para sempre.
    Pobre relojoeiro.
    Em sua mão, agora para sempre inerte, a mesma que havia ajudado tantos a marcar o tempo, o último relógio, que ele havia forjado há poucos minutos, vivia seus primeiros instantes, mas o seu som sempre fora e sempre será eterno. Talvez você saiba, ele vai assim: TIC TAC, TIC TAC, TIC TAC...

domingo, 23 de maio de 2010

Jean-Pierre (Parte 1)

Jean-Pierre finalmente acorda. Depois de tamanha queda, era de se esperar que a inconsciência logo tomasse conta do garoto. A curiosidade quase havia feito mais uma vítima. Desbravando um velho sobrado que talvez houvesse sido algum tipo estranho de loja ou algo semelhante, Jean havia tropeçado em um velho baú de madeira. Intrigado, resolve tentar a sorte no velho fecho de cobre, que cede facilmente ante uma leve pressão dos dedos do rapaz; o baú como tudo mais naquela casa havia sido deveras castigado pela ação do Tempo. Com o pé direito ainda latejando de dor, Pierre observa o conteúdo do baú: algumas moedas de cobre, tubos de uma linha quase transparente, pedaços de pano e ao centro, um grande volume em capa dura.
Na Alsácia-Lorena, entre a França e a Alemanha, existe uma cidade bastante antiga e imponente de nome Estrasburgo. Conta-se que há alguns séculos quando os tempos ainda eram de Trevas, um estranho episódio ocorreu na então pacata e isolada Estrasburgo.

... E é assim que se conjuga!

Eu disserto

Tu discordas

Ele concorda

Nós discutimos

Vós debateis

Eles refletem

Vocês aprendem.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ele caminha em beleza

Ele caminha em beleza
com luz nos olhos
e mel nos lábios
cintila em amor
desejoso de alguém

Manhã, tarde e noite
misturam-se em seu ser
três partes de um cavalheiro
um poeta!
despertando ao nascer
nascer do sol!
nascer da vida!
renascemos em amor

E ele caminha em beleza
como a luz da lua de prata
cintilando num lago encatando
como um feitiço gentil
de uma mago dourado
ele caminha,
o meu amado

O tempo esquece
envelhece
o momento se vai
o amor, jamais

E ainda assim
ele caminha em beleza
É um homem?
não! uma miragem!
É um homem?
não! falsa imagem!

É explosão em desvairado sentimento
por vezes, um tormento
mas ele caminha em beleza
manhã, tarde e noite
misturam-se em seu ser
é a metade de um amor
e tudo que há em mim.

sábado, 15 de maio de 2010

Despedidas

     Eram sete e meia da manhã e meu coração estava quase batendo fora do peito. Eu não costumava acordar cedo, mas naquele dia era por uma boa razão, ou pior, uma infeliz razão. Meus olhos estavam apertados e, meu pensamento, dividido entre o amigo ao meu lado e a tentativa de não chorar.
     Eu não o via, mas o ouvia se despedir de seus familiares. A sua mãe parecia estar tendo uma enorme dificuldade em segurar o choro, o pai dava-lhe tapas nos ombros, e os irmãos perguntavam se poderia usar o quarto dele como academia. Só que eu tinha certeza de que o que ficaria era muito mais do que um quarto vazio.
    Quando ele se voltou para mim, ajeitando a mochila nos ombros, eu olhei para além da parede de vidro à minha frente, para o avião pousado na pista de embarque. Perguntei-me quantas pessoas aquele avião já havia levado, quantas vidas havia ajudado a inovar, e quanta dor e saudades havia deixado para trás. Hoje ele estaria decolando com meu maior amigo, e levando uma grande parte do meu coração.

"Vai me dar um abraço?", meu amigo perguntou.

  Com muita dificuldade, voltei meus olhos para ele e memorizei melhor seu rosto. Eu, certamente, nunca o esqueceria, mas eu receiava que ele me esquecesse. Quando a realidade nova é melhor que a realidade velha [da qual eu logo faria parte] esquecer quem uma vez amamos era uma pequena e frequente parte do processo. Então, ele me abraçou, uma das poucas vezes que o havia feito na vida. E desta vez era para de despedir.

"Eu mandarei notícias", ele falou.

"E presentes", brinquei, "Sério."

"E daqui a alguns anos, cumprirei minha promessa, e te levarei comigo."

  Eu já o tinha ouvido dizer aquilo, e tentava me confortar com isso. Mas não mais pude conter as lágrimas, nem ele as suas poucas.
  Tinha pensado em mil coisas para dizer naquele momento, sempre desejando silenciosamente que não precissasse dizê-las, pois tinha esperanças de que ele não partisse. No entanto, foram vãs as esperanças e três palavras foram tudo que saiu:

"Sentirei sua falta."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ele não sabia ler

Eram seus últimos dias de vida. Sua patologia era única e, de acordo com os diagnósticos, “delicada”, quase sempre – quando tratada sem muita fé – incurável. Como ele mesmo costumava dizer: A vida era curta demais. Só lhe restava tempo para gastar seu dinheiro, fruto de um árduo trabalho, sempre ganhando votos de mendigos (que não sabiam nem ler nem escrever e, muito menos, tinham o que comer) detrás de sua mesa em seu gabinete político-eleitoral. E sua vida fora assim: muitas felicidades, mulheres, festas e festas. Dinheiro! Talvez por nunca se preocupar com o “amanhã”, nunca teve a preocupação de filhos, esposa, família. Porém, vendo sua vida passar em uma ampulheta de areias finas, todo o arrependimento que não havia se apresentado durante toda a sua vida, decidiu – por completo – em seu último suspiro, mudar tudo. Tal que assim, o homem resolvera tentar ajudar alguém, qualquer pessoa que fosse de alguma forma. Talvez por um motivo posterior – isso estava intrínseco no seu eu de ser. Mas assim, resolveu abrir mão de seu dinheiro (deixando apenas uma pequena quantia para a sua mãe, apesar de que não tivessem mais tanto contato) junto a uma carta epitáfio em forma de “testamento”. Seria um testamento diferente, no qual escrevera como fora sua vida, dando conselhos e cuidados que seu “descendente” deveria tomar para não se ludibriar com a quantia em dinheiro que iria “ganhar”.


O não-tão esperado dia havia chegado. Após se despedir de todos os seus bens-materiais – amados como filhos – que possuía, vestira seu melhor paletó com um chapéu – que serviria para cobrir seus próprios olhos, a esta hora à beira do pranto – e se encaminhou a uma pequena pracinha. Sentou-se em um banquinho acompanhado por um velho poste ainda apagado e pôs-se a pensar... Após minutos viajando em seu próprio pensamento, as horas acabaram se passando em segundos e, enfim, o fim estava pra chegar na hora marcada. Enrolara sua carta ao bolo de dinheiro e cobriu com as duas mãos sobre suas pernas. Esperou. Esperou. A luz do poste começava vagamente a se acender. Esperou. Começou a sentir uma reviravolta dentro de si. Estava começando. Mas, para não estragar o disfarce, sofrera em silêncio. Levantou-se e deixou o dinheiro embrulhado em sua primeira e última poesia e saiu às pressas. Escondera-se em um pequeno cantinho arborizado onde poderia disfarçar melhor sua autofagia. Até que enfim, um “estranho” sentara no banquinho. Jovem ainda, com a cabeça atribulada. Meio sem jeito. Roupas furadas. Sujo. Uma pessoa que ele nem notaria ao passar pela sua frente. Tudo estava ocorrendo como deveria, o menino desembrulhara o papel e olhara o dinheiro. Felicidade quase que instantânea. Observando pelas árvores, esperava apenas que o jovem lê-se a carta. E assim seria. O menino guardara o dinheiro dentro do seu peito com um olhar desconfiado e começara a olhar fixamente para o papel. Ficara olhando por um tempo. Atentamente. Ele estaria entendendo? Não esboçava nenhuma reação. Costumava duvidar da capacidade das pessoas constantemente, até que o jovem amassou o papel, jogou fora e foi andando naturalmente, agora com o peito estufado. O coração do homem não agüentou o rumo que a situação tinha se levado e desfaleceu-se.

Acabei e fechei a janela

Uma chuva forte caía.

Transbordou tudo o que eu havia sentido desde o início do dia:

Lembranças de você.

Daqueles dias que eu nem sentia a chuva passar, porque estava com você.

Ou daquele dia que deixei passar,

E hoje,

Essa mesma chuva que me tirou de você

– como já diz a melodia

– “...quer é trazer você pra mim.”

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mais um pouco de utopia


Eu quero
mais um pouco de utopia
mais um dia de alegria
mais uma lágrima de ilusão

Eu quero
mais um céu desanuviado
mais um suspiro apaixonado
mais voo de balão

Eu quero
mais um lago no outono
mais realidade feita de sonhos
mais uma dança noturna

Eu quero
mais brilho no olhar
muito mais perda de ar
mais palavras no silêncio
e fulgor no coração

Eu quero
ainda poder sentir a dor
de estar longe de um amor
ou procurando fantasia

E todo dia
sempre que o sol se por e raiar
erguer o braços e gritar:
Eu quero
mais um pouco de utopia!


terça-feira, 4 de maio de 2010

Mas, amanheceu. Me enganei.

A escuridão da noite ia se dissipando segundos afins

A fim de mostrar que já estava pondo a mesa do sol.

O preto se misturava às nuvens amarelo-flamejantes

Pelos virgens picos das montanhas.

A perfeição perfeita.

A imagem hachurada pela densa e fria neblina, que esfumaçava ao dar o retoque final

Me fazia acreditar em mitos e sonhos

...

Mas, amanheceu.

As formas indefinidas

Que antes eram surrealizadas pela imaginação

Agora, se mostravam do jeito que realmente são.

Enganei-me.

As nuvens amarelo-flamejantes são, na verdade, fogo.

Os virgens picos das montanhas já não são tão virgens assim,

Na verdade, são as chaminés das fábricas que se encontram pelas esquinas.

A fumaça...

Ah, a fumaça!

Era a própria fumaça!

Foi ai que me enganei.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Soneto da Consolação

Fizestes bem, quando ouviste teu coração
Razão oculta de teus males,
Dos vales da incerteza e da dor,
Das colinas do júbilo e do amor.

Acalma-te, o tempo a tudo cura;
Mesmo a ternura que perdeste,
E em cético e melancólico tornou-te;
Novamente um dia iluminar-te-á.

Pelos dramas da vida tu hás de passar;
Mesmo que nem sempre seja possível o futuro antever
Faças tudo para um dia nada ter do que se arrepender.

Mas a tempestade cessará,
E a calmaria certamente chegará;
E bosques tranqüilos teu espírito percorrerá.

terça-feira, 27 de abril de 2010

"Desculpe incomodar!"

Tudo começa com um

-“Quantos anos você tem?”

-“Asma, diabetes, hipertenso?”

e termina, na maioria das vezes, com uma frase que já quer descansar:

-“18 anos apenas com doenças crônicas!”

O susto, primeiramente, é brando,

Mas presenciando um meio em que para tudo se dá um jeito,

-“Vem menina, larga de bobagem! Tem muita vacina aqui! Vou até esconder uma pra ti, mesmo que não precise. Quase ninguém apareceu no posto hoje! To te esperando...”

Ulteriormente, causa indignação!

Pelo que se tem, não é preciso se preocupar. Já que, se, ao andar pela rua, a “doença da vez” irá perguntar:

-“18 anos?”

-“Sim!”

-“Desculpe incomodar!”

sábado, 24 de abril de 2010

A casa dos Duartes

Nossa história começa em uma manhã de inverno em Emilyville. A áurea estava densa e com um forte aroma de suspense. No alto do morro havia uma casa que por muitos anos, desde a morte da família Duarte, ninguém morava ou alugava.


Como em qualquer cidadezinha mal-habitada, existiam vários boatos sobre a morte dos Duartes. Alguns eram tão exagerados que se tornaram lendas para assustar as criancinhas, porém todos começavam da mesma maneira.

Falavam que a família Duarte nunca saía de casa, era discreta e poucos moradores de Emilyville atreviam-se a dizer que já os tinham visto. Todos os serviços, como cuidar do jardim, levar o jornal e o leite, e em alguns casos, repelir meninos que brincavam nos terrenos da casa, eram feitos por Severino, um idoso militar reformado que sofria intensas dores na perna quase todos os dias, desde a sua volta da Primeira Guerra Mundial.

Alguns diziam que Severino tinha matado os Duartes com a esperança de herdar o casarão, mas essa história foi sendo esquecida, pois ele já havia provado sua inocência e só queria continuar a fazer os serviços diários aos seus falecidos patrões. Outros diziam que viam todos os dias vultos e velas voando através das antigas janelas do velho casarão.

Certa vez, para mostrar coragem aos seus colegas, um menino decidiu entrar na casa à noite, pegar uma das “velas flutuantes” e acenar pela janela aberta do último andar, mas para isso ele teria que passar por Severino e não ser visto. Ele sabia que desde o falecimento da família, a chave mestra ficava no casebre onde o serviçal morava. Ele pulou a grade de ferro do terreno com muito cuidado para não fazer as hastes enferrujadas rangerem.

Ao pular, correu para o casebre onde Severino ficava, ao fundo do terreno. Para a sua sorte, ao abrir a porta, viu que ele encontrava-se adormecido, e o garoto teve apenas que tirar a chave de cima do criado-mudo, e se encaminhar para a porta dos fundos, com a finalidade de não chamar muito a atenção de vizinhos curiosos.

Quando entrou na casa, não conseguia ver muito, pois a casa era escura e ele não tinha levado nenhuma lanterna. Sabia que estava na cozinha, pois havia um fogão, uma mesa e uma pia. Seguiu pelo corredor e viu uma vela presa a um castiçal, segurou-a e a acendeu na lareira, que estranhamente estava acesa. Ao chegar no último andar, sentia calafrios, pois tinha certeza de que alguém o estava observando. Viu a janela já aberta, e sentiu aquela gélida brisa.

Lá de fora, seus amigos olhavam atentamente quando ele chegou à janela com a vela acesa na mão. Mas de repente algo estranho aconteceu. Os garotos ouviram um grito de dentro da casa e viram a família Duarte apagando a vela e fechando a janela.

Uma fria voz de criança disse:

-- Oba mamãe, mais um amiguinho para mim!

Nunca se soube o que aconteceu naquela noite. Algumas décadas depois surgiram mais boatos que reviveram o suspense daquela casa de terror, daquele lugar que todos conheciam apenas como a casa dos Duartes.

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.



Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.



A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.



Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.



Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.



E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,



E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.


                        por Fernando Pessoa


Pergunte a si mesmo que tipo de sentimento queres para abrigar teu coração, pois um dia, se tiveres sorte, talvez irás achar a tua alma, a alma que nunca abrigou teu corpo, e devolverás a alma de alguém que possuía a tua. Não somos completos. Há sempre alguém abrigando o que realmente nos faz feliz. Amor[Eros] e Alma[Psique] são um casamento raro de se achar, mas não impossível, pois é eterno. Sempre foi. E sempre será.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Palavras leves [Ode ao dia do livro]

Escancaradas sobre a mesa estavam
as palavras leves como pluma
unidas sua mensagem encantava
aos diversos olhos sedentos de conhecimento

Por vezes, em seu leito letrado
verdes montanhas se estendiam
o vento guiando heróis apaixonados
cidades de pedra
mentes confusas
magos, dragões e céus e tudo
as páginas ofereciam
em um tempo totalmente acidentado

E ao respirar aventuras várias de um livro
o espírito começou a aprender a viver
era a chave de um mundo tão [des]conhecido
os Livros,
a porta da grandeza do saber.

Minha homenagem ao dia do livro...Clarice Linspector, Machado de Assis, Álvares de Azevedo, J.K. Rowling, Rick Riordan, Stephenie Meyer, Dan Brown, entre tantos outros. Aos autores que fazem das letras, o mais confortante repouso da alma. E aos leitores, que se deixam levar por essa beleza.
Agradeço...

O diário de um soldado

Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítida. Acho que foi isso que eu aprendi quando fui para a guerra... mas e agora, onde está aquela bravura?


Por que estava ali? O que eu iria ganhar? O que eu iria... perder? Cada segundo pareciam minutos, cada minuto, horas, e cada hora pareciam intermináveis séculos. O céu era escuro, parecia ficar mais escuro a cada tiro que se dava, a cada corpo que caía em combate. O ar tinha um cheiro de embrulhar o estômago, pois misturavam o mal-cheiro dos corpos mortos com sangue e pavor.

Estávamos em Dresden, uma pequena cidadezinha que se encontrava em ruínas e desabitada, no interior da Alemanha. Não dormia há dias, minha tropa - ou, o que sobrou do último ataque – continuava estática, sem condições de recuar ou avançar, esperando um vacilo do inimigo.

Começou a chover. Olhei para o céu, aquele céu que me tirava as esperanças, agora, parecia sorrir. O som daquelas gotas caindo no chão, parecia o som de uma grande orquestra tocando só para mim. Será que estava delirando?

De repente, o som da chuva foi abafado por várias bombas seguidas de vários tiros de metralhadora. Por um instante não quis deixar aquele momento glorioso, mas para sobreviver, era preciso. Ouvi gritos de socorro... sangue jorrando de todos os lados...os “grandes homens” pareciam pequenos meninos.

Os séculos, pareciam milênios, os milênios, o infinito... Ainda chovia? Tudo parecia calmo novamente. O ataque havia acabado? Não conseguia ver nada, não distinguia nada. Uma esperança... com incerteza. Voltei a sentir os pingos de água da chuva em meu rosto... então sorri.

Escrito em 2006.
23 de Abril - Dia Mundial do Livro.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uns e outros muitos e poucos

Uma família
Uma vida
Algum tempo
Um jovem
Uma cidade
Um momento
Um beijo
Duas vidas
Uma despedida
Uma lembrança
Muitos caminhos
Muitas decisões
Algumas frustrações
Muito trabalho
Algum Medo
Uma lágrima
Muita paz
Um sorriso
Uma certeza
Muitos sonhos
Muitos amores
Muitos amigos
Muita Poesia
Muitas Vidas
Muitos Tempos...
Muito de tudo
Pouco do todo
Começa tudo de novo,
Queremos sempre mais um pouco...
Desculpas aos companheiros por demorar demasiadamente a postar

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vinteum, vintecinco e vinteoito!

21:25:28
A aula metódica e monótona de metodologia causa reflexão
alterada ou não
tudo se determina por cada concepção
tudo se finaliza pela indagação
o que é?
o que são?
as perguntas procuram o 'xis' da questão
por que sim?
porque não!

As ideias ultrapassadas perpassam até hoje
nos encaminham a um mundo de caminhos
a caminho de um mesmo fim
mascarou-se o "porque sim!"
mascou-se o "porque não!"

Palavras bonitas roubam sem roubar
sem querer
o lugar nas mentes científicas
das palavras ingênuas que se dão por se dar
Chegam a chegar primeiro
porém perdem o seu lugar.
Às vezes nao consegue falar o que quis
Muito menos viver o que diz
O conhecimento utiliza imagens
de sua primária reflexão.

As aparências enganam e se enganam
por aparentarem ser as donas da razão.
A sociedade pragmática se pergunta
o 'xis', o 'ipsilon' e o 'zê' para se estudar
mas se contenta ao chegar
a um conhecimento dito científico
As letras desaparecem
e tudo o que se vê é...
Será este o conhecimento?

Como uma casa que encontra tijolos
e já quer encimentar
A vida é bela
A justiça é cega
Se pensa, pensa, pensa até chegar
ao ponto de tudo negar!
Verdade é momento!
Pois na verdade
tudo depende de como você a vê!
Verdadeiramente.
21:56:52.

domingo, 18 de abril de 2010

Essas histórias

Essas histórias
que contam os velhos
vividas por jovens
sob sóis e luares

Pelas ruas e campos
existem mundos e fundos
contados em segundos
rápidos ou lentos
[mas sem parar]

Imagine só
quantos olhos brilhantes
de alegria ou dor
em histórias de amantes
ou canções de ninar

De crianças que crescem
brincam
e adormecem
para somente sonhar
De adultos que cantam
e colhem vitórias e derrotas
para contar

E no embalo da vida
quando as coisas mudam de lugar
surgem momentos
nunca à vista
para nos fazer cantar
um mundo de sorriso
choros e fantasias
pensamentos insanos
que se misturam nessas histórias
de vários corações.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

E assim se faz!

Enquanto alguns dizem que a união faz a força

Outros dizem que a força faz a união.

De trás para frente

De frente para trás

Tanto faz

Todos os lados mostram uma mesma verdade

Na prosa viva

No dia a dia

Sabemos que a historinha contada antes de dormir

Repassada pelas gerações afim

Ainda tem um toque que acalma e nos faz pensar:

Dispostos

Postos

Esperançosos

A vida que é!

Pra que tentar

Se ela não tem nada a que se juntar?

Não apenas quem tem a união faz a força

Mas, quem tem a força também faz a união

De trás para frente

De frente para trás

Faz-se assim!

E por que não

“Assim se faz?”

De mãos dadas seguiremos...

                        "O que acontece quando esta ponte se quebra?"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Por que não é tão fácil escrever poesias

1-É preciso escrever impulsionado por algum tipo de sentimento, lembrança, sonho ou anseio, de forma que seja uma conseqüência natural do estado de espírito do poeta; de outra forma tornar-se-ia um ato extremamente mecânico e bisonhamente artificial.
2-Muitas vezes os poetas são bastante perfeccionistas (conheço alguns que rasgam suas poesias por não as acharem bem acabadas) (Sê-lo-ia eu um deles?) (risos).
3-Muitas vezes perde-se bastante tempo (de forma perfeitamente justificada e necessária é claro) buscando aquela palavrinha que “encaixa”, que faz a mágica acontecer, seja em significado, musicalidade, etc.
4(facultativo)-Muitos precisam da inspiração como combustível para sua escrita; não é fator essencial, mas temos que concordar que dá um toque de perfeição e ajuda muito na composição.
5-Às vezes há na mente do poeta uma temática a ser seguida, algo que se pretende expor; mas quando é esse o caso, é necessário articular o texto de forma que o leitor possa seguir a linha de raciocínio do autor, para que seja alcançado o efeito desejado.

Esses são apenas alguns dos pormenores do fazer poético que mostram porque essa é uma arte que não é tão fácil como alguns pensam...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Drakkar

Do Mar salgado e frio do Norte,
Forte vento sopra nas velas;
O mastro firme aponta o horizonte:
Drakkar, navio dos bravos,
Carrasco dos fracos,
Tesouro dos mares.

Remam contra a correnteza;
Que beleza de tempestade!
A majestade de Odin testa os filhos de Valhalla,
Mortalha aos fracos; glória aos bravos.
Impávidos e fatais;
Na fama imortais, heróis de valor;
Desdenham da dor,
Amor de batalha,
Paixão pela guerra.

O Caboco do Sertão

O Caboco do sertão não sabe ler,

Nem escrever.

Para os cabocos do sertão,

nem certidão para os seus filhos, conseguirão!

O Caboco do sertão tem mais vontade de ir à cidade,

do que roçar o grão,

para ver o que é realmente “bão”.

Quando chega lá,

com o coração mais perto de cá,

deixa a vista se levar até o ponto de encontro das últimas

janelas de cada prédio da Rua São Sebastião –

nome do seu falecido patrão!

De mala e cuia,

a barriga grande por fora

E vazia por dentro

pede comida

Teve que se contentar com um copo d’água e migalhas de pão!

Eita caboco do sertão,

por que você trocou seu mole colchão por um pedaço de papelão?

Eita meu Deus, por que fui sair do meu sertão?

terça-feira, 6 de abril de 2010

O tudo é assim

Por que que o tudo é assim?

Acima de mim

Acima de nós

Perdemos a voz

Não falamos nada

Paro na imagem congelada

A cena não quer passar



Mas quem irá mostrar como se faz?

Quem veio pra ensinar

Bateu asas e voou

Será essa a solução?

Mas muitos são presos

Ilesos

Sim, senhor!

Em correntes de ouro

Outro

Ouro

E outro...



A experiência do errado

Aponta uma esperança

Embasada na lembrança

Que se esqueceu de chegar

Para ensinar

Esse mundo tão virado!

Um pouco de Shakespeare

“Ser ou não ser, eis a questão”. Essa frase, imortalizada por Hamlet, príncipe dinamarquês da peça homônima, é amplamente conhecida aonde quer que seja. William Shakespeare faz parte daquela pequena parcela de escritores que conseguem vencer as barreiras do tempo e tornar-se (por meio de suas obras) imortais. A peculiaridade tanto do fazer poético (sim, caso você não saiba Shakespeare foi exímio sonetista) como no fazer dramático despertam até hoje a curiosidade de admiradores e estudiosos. Mas tal qual a máxima que ilustra este primeiro parágrafo, é inevitável perguntar: quem foi realmente William Shakespeare? Devo ressaltar aqui que não tenho a pretensão de responder de forma exata este questionamento; certamente existem pessoas mais capazes em busca de respostas semelhantes. Mas, vamos em frente.
Shakespeare nasceu em uma pequena cidade (para não dizer vilarejo) chamada Stratford-upon-Avon, na qual viveu boa parte da juventude. Logo se cansou do ambiente rural e buscou vôos mais altos. Não há um consenso de quando William partiu para Londres, tampouco como se iniciou sua carreira literária, mas dizem os historiadores que ele teria participado de trupes teatrais (inicialmente como ator) para sobreviver na dura Londres do século XVI. Obviamente, realizou-se no processo, futuramente escrevendo as obras-primas que conhecemos. Há, no entanto um fato curioso a respeito de seus dados biográficos: durante aproximadamente uma década, não existem registros sobre as atividades do dramaturgo inglês. O que ele teria feito nesse espaço temporal é um completo mistério.
Shakespeare podia ser considerado um homem à frente de seu tempo: o valor de seus escritos literários é tal que se duvida até hoje que eles tenham sido elaborados por apenas uma pessoa (o fato de ele rubricar seus escritos de formas razoavelmente diferentes colabora com esta tese).
No entanto, mais do que o dramaturgo, é a obra que mais fascinou e continua fascinando a todos. Em plena Inglaterra do século XVI, Shakespeare tematiza o amor Romântico (ainda que no teatro) antes mesmo do surgimento do Romantismo como movimento literário, fato que só ocorreria após a publicação de “Os Sofrimentos do Jovem Werther” de Johan Wolfgang Von Goethe; cria comédias cuja riqueza de detalhes e de enredo as eleva a uma categoria válida e preciosa na Dramaturgia (vale lembrar que a Comédia era um gênero popular à época, mas ao qual não era dado o devido valor); transformou sentimentos em palavras na forma dos sonetos shakespeareanos, diferentes quanto à forma e conteúdo.
Apenas palavras minhas tornariam excessivamente tediosa e árida a leitura desse artigo; tomo então a liberdade de citar algumas das passagens do próprio Dramaturgo inglês:

“O amor é feito dos vapores dos suspiros dos apaixonados”.
“Que luz é aquela que vem da janela? É o Leste, e Julieta é o Sol”.
“Se a música é o alimento do amor, não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que depois de saciar, mate de náusea o apetite”.

Tema tarimbado na obra Shakespeariana, o amor foi mostrado, homenageado e sorvido de diversas formas. Em Romeu e Julieta revela-se a intensidade do Amor, tão forte quanto a morte, dramático e sublime; trágico. Em Sonho de Uma Noite de Verão, divertimo-nos observando a inconstância e imprevisibilidade do Amor, suscetível a toda sorte de acasos. Ainda que seja impossível retratar tão sublime sentimento apenas com palavras, William Shakespeare fez tanto quanto um Homem pode fazer para expressar seu apreço ao Amor. Porém engana-se quem pensa que ele teve uma vida amorosa feliz; casou-se ainda jovem com Anne Hathaway, mulher 9 anos mais velha que a ele deu a luz dois filhos; tão inconstante como as próprias paixões que retratava, William parte em busca de novas paixões, renegando o próprio casamento e a família, mostrando como muitas vezes o fim da paixão tem como conseqüência o fim do amor, sendo este tão frágil como um fio de cabelo e (ironicamente) ao mesmo tempo tão forte quanto a morte (que o provem o veneno sorvido por Romeu e a lâmina cruel que vitimou Julieta, os quais mesmo ceifando a vida de ambos, não foi capaz de destruir o amor entre eles, imortalizado na masterpiece shakespeariana). Pois assim é o amor: para que a chama se mantenha acesa, é preciso que ambos os amantes doem do calor de seus corações, de suas almas.
Também a nobreza, a ambição, feitos heróicos e traições são retratados de forma irrepreensível em obras como Otelo, Ricardo III, MacBeth e o Mercador de Veneza. Curiosamente, porém, Shakespeare não foi tão famoso à época como é hoje em dia; naqueles tempos ainda que fosse admirado, perdia em notoriedade para o jovem Christopher Marlowe, favorito de Londres, igualmente talentoso. Entretanto, o tempo confirmou o que anteriormente foi dito: Shakespeare é imortal até os dias de hoje (ao contrário de Marlowe sequer comentado na atualidade); foi realmente um homem a frente de seu tempo...

Sonho

Lancei-me ao sonho quente
maravilhada por sua natureza pacífica
Estava eu sentada
à beira de um lago encantado
aguardando alguém
mas quem?

Deleitei-me com o sosssego
em meio àquele mar de flores
as árvores farfalhavam
em um burburinho
comunicando-se com o vento
e chamavam para a roda
a Lua
que na superfície do lago
há pouco dormia ao relento

Foi então que o vento
de repente perdeu o ar
e as árvores frenéticas
deusas
começaram a sibilar
um outro ser aparecia
dissipando qualquer escuridão

Em meio à roda
exlpodiu magia
e tudo clareou

Era um poeta que descia
dos céus,
para proclamar seus versos
ao meu lado
Em suas palavras me vi perdida
sabia que não iria voltar

E tudo cantava para ele
lago, estrelas, vento, flores e Lua
e ele retribuiu o amor em meus olhos
fez do instante meu eterno repouso

Mas então acordei
de repente o sonho se foi
tentei agarrar-me ao poeta
mas ele me escapou
só para que eu o procurasse
por toda a eternidade...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dama da Fortuna

Tão logo a vida começou
O Destino seus dados lançou
E a Sorte, dama sagaz
Prontamente mostrou do que é capaz

Da ventura o alvo brio ela pode tornar
No lodo negro e mordaz do fracasso
Irônico filho não do descaso,
Mas da Roda da Fortuna

E a quem salvo conduto a Dama prover
É possível imaginar
Os intensos deleites que há de experimentar

Porém amigo esteja atento,
A Roda gira sempre
E o que veio fácil pode ir rápido como o vento...




Fevereiro de 2010

Vou-me

Quisera eu poder remeter teu pensamento

Pegá-lo não só quando ele corre mil lugares/segundo

Mas também quando ele se lembra de mim

E assim,

Te fazer pensar em mim!


Volte a pensar em mim...

Vou te pensar em mim...

Que eu vou me pensar em ti!

domingo, 4 de abril de 2010

O Poder dos Sonhos: O “Espírito sem Limites” de “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha” em um Paralelo com a Realidade.

Todos já vimos estátuas de pessoas importantes em praças ou parques; bem comum na verdade. Mas e de personagens? Bastante incomum. Pois bem, no centro de Madrid há uma imensa estátua de Dom Quixote e Sancho Pança, os dois protagonistas da obra prima de Miguel de Cervantes y Saavedra, ambos conhecidos no mundo todo e presentes vivamente no imaginário popular há cerca de 500 anos. Eu poderia simplesmente realizar uma síntese do famoso romance e comentá-lo quanto a seus aspectos físicos, estéticos. Em vista de ser tão conhecida a obra, não é necessário o resumo; e seria simplório demais da minha parte realizar tais comentários pragmáticos. Não, o que pretendo fazer (ousadia da minha parte talvez) é penetrar fundo na mente e se possível na alma humana, revelando os simbolismos presentes na obra e levantando questões fundamentais à nossa própria condição humana.
Cervantes talvez tenha ido mais longe do que pretendia. Ao retratar as aventuras (e desventuras) do fidalgo Alonso Quijano (Dom Quixote) nessa que é tanto tragédia quanto comédia, revelou características inerentes ao ser humano que nos tomam como um ímpeto insano que nos permite vencer até mesmo nossas limitações físicas: o espírito sem limites (a busca incessante pela realização dos sonhos, sejam eles possíveis ou não, sempre em busca de aventuras que nos libertam das cadeias da mediocridade cotidiana), a capacidade de sonhar e a coragem para lutar por aquilo que se acredita.
O romance coincide com a época das Grandes Navegações, das Grandes Descobertas, período de mudanças na mentalidade das sociedades, período de declínio dos contos de cavalaria. Fidalgo da pequena região de La Mancha, o depois autoproclamado Dom Quixote de La Mancha, encontrava abrigo em seus livros (como muitos de nós), principalmente novelas de cavalaria. Ansiava realizar grandes feitos, ainda que aqueles que o rodeavam podassem os seus desejos de realizá-los, julgando-o totalmente louco (o que era uma inverdade). Idoso e embevecido pelos livros, Alonso Quijano parte em busca de aventuras; voa alto como um Ícaro grego e tem derretidas suas asas de cera numa queda verdadeiramente triste: ao ser obrigado a abdicar de seu ideal de cavalaria, de seus sonhos, logo ele falece, bastante melancólico e desiludido.
É isso que acontece quando o ser humano torna-se incapaz de sonhar: ele perde a razão de viver, de mirar-se ao espelho e observar uma silhueta vivente sem objetivo algum, sem anseios, sem amores, sem essência. Cervantes mostra isso de forma primorosa. E ainda revela como os sonhos são algo íntimo e precioso, como jóias que têm valor apenas a seus donos: os sonhos de Alonso que, a ele pareciam tão admirados eram vitimas do desdém e do riso alheio. À parte a insanidade senil do protagonista, que atire a primeira pedra aquele que nunca sonhou com algo aparentemente inalcançável! Fica também a seguinte questão: até que ponto a realidade confunde-se à fantasia num ideal quixotesco de realização improvável? Difícil distinguir, mas vale lembrar que às vezes realmente enxergamos apenas o que queremos ver...
Ainda que de forma desajeitada, Dom Quixote acabou tornando seu sonho realidade: tornou-se um verdadeiro cavaleiro, um homem que luta por seus sonhos sem medo de defendê-los, independentemente de ser ridicularizado ou não por isso, enfrentando corajosamente os obstáculos do caminho e sempre seguindo seus ideais de justiça e hombridade, procurando fazer o que era correto não para alcançar fama ou bens pessoais, mas porque era o que devia ser feito, mesmo à sombra de seus desvarios.
Uma mensagem deve ser aprendida: da mesma forma que belos quadros nada seriam sem suas cores, e a bela arquitetura da terra de Cervantes pouco seria sem o gênio de Gaudí, o Homem nada é sem seus sonhos. Então sonhe, sonhe intensamente e busque a realização do ideal de suas paixões, amores e anseios! Ainda que frequentemente nos deparemos com obstáculos e desilusões no caminho, o convite à ventura é irresistível demais para aceitar meras desistências. Selemos então nossos corcéis e partamos ao ritmo de nossos corações (não esquecendo, no entanto a prudência), pois o tempo passa depressa demais para nos contentarmos apenas em ler sobre feitos que poderíamos nós mesmos realizar...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Breve comentário Expresso!

O mundo mudou

Isso é notável

e para se notar!

Nesse mais novo 'novo mundo'

Todos têm pressa

e é nessa remessa

que neste blog,

lançamos uma literatura expressa

a qualquer hora, minuto ou segundo

idade, sexo ou ideologia

Aqui,

Formamos uma "Literatulogia"

construimos e aprendemos

escrevemos aquilo que queremos

somos um grupo de

românticos

realistas

parnasianos

simbolistas

entre outros..

e,

por que não

Expressionistas?

Não só 'a qualquer hora'

mas recheada de vida

Literatura que se expressa em nossa breve vida.

sobrevivida

nos amores

no dia-a-dia

na correria retida nas rotinas.

Somos exceção!

essência

escrevemos direto da fonte da inspiração!

A arte vinda de um reflexo direto do mundo interior de cada artista!



Impressione-se e Expressione-se!

Viagem à Europa

— Pai, quero ir à Europa.


Meu pai levantou os olhos do prato e me encarou.

— Como é que é?

— Quero ir à Europa.

Seus olhos ficaram fixos no meu rosto por alguns segundos, céticos. Eu tinha certeza que ele ia recusar.

Abaixou os olhos e disse:

— Claro. Falamos disso depois.

— Sério?

— Sério.

Depois, eu estava deitada na minha cama, assistindo televisão, pensando se ele realmente estava falando a verdade ou só debochando.

Meu pai entrou no quarto, desligou a TV e jogou-me algo.

— Boa viagem à Europa.

Calmamente, ele saiu do quarto. Sem entender, olhei para o livro que ele havia jogado em minhas mãos.

Os dias que se seguiram foram os melhores da minha vida. Não só visitei a Europa, mas também a China, suas muralhas e seus samurais; a Índia e seus deuses; o Brasil colônia e seus engenhos; e cada canto do mundo que ainda não fora totalmente explorado. Até outra galáxia visitei.

Conheci Luís XIV, o faraó Quéops, Jesus Cristo, Aluísio de Azevedo, Dostoiévski, José Saramago e muitos outros amigos eternos.

Resolvi crimes e apliquei castigos, voei com dragões, lutei contra nações de Marte, chorei as dores de um amor, fui julgada, desci vinte mil léguas submarinas e adquiri títulos reais.

E no final de tudo, com tantas vidas, cheias de emoções e aventuras várias, que eu havia experimentado, eu só tinha uma coisa a dizer: Bendito o dia em que eu quis ir à Europa!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

PEDEGINJA - Tire o seu cavalo da chuva

Vou sair à noite
E procurar
Tudo o que eu jamais achei que um dia fosse procurar
E se você espera
Que eu vá voltar
Tire o seu cavalo da chuva
Que ele vai se resfriar
De tanto me aguardar


Eu perdi o rumo
E já não me entendo
Eu ganhei o mundo
E já não mereço
Esse amor que você guarda ... Para mim
Tire o seu cavalo da chuva
me esqueça
É o melhor que faz


Vá à praça
Procurar outro rapaz
Vá à praça
Procurar outro rapaz pra você

Nossas mentes já
São muito diferentes
Você sempre amarga
E eu sempre contente
Por estar...
Só...
Por estar...
Só...

Eu deixo o vento me carregar
Para onde quiser me levar
E com certeza não será
Para mais perto de você...
de você...
de você...
de você...
Tire o seu cavalo da chuva...
Que ele vai se resfriar de tanto me aguardar!

...


"Mil coisas podem ser ditas no silêncio de uma imagem."


Tema Recorrente: A Efemeridade do Tempo

“O tempo voa”. Essa afirmação nunca foi tão verdadeira como é hoje em dia. Em nossas leituras muitas vezes observamos essa verdade universal, ainda que sob diferentes pontos de vista. É tema recorrente em escritos literários o fato de o tempo ser passageiro, de nossas ações serem passageiras, nossas emoções; com a imortalidade é agraciada apenas a essência das coisas, aquilo que é fundamental.
A luta contra o Tempo é diária; agora mesmo travo esta batalha enquanto escrevo este artigo, dividido entre a vontade de escrever, de ler meus livros; a necessidade de estudar meus textos econômico-filosóficos; a saudade de acariciar as cordas de uma guitarra e fraqueza humana de dormir...
Ah, mas este nosso tempo não se restringe à definição da Física; não é apenas o intervalo espaço temporal em que é possível a realização de trabalhos. Não, é muito mais do que isso. Às vezes parece passar devagar demais, como se os ponteiros de nossos relógios houvessem parado; e outras vezes parece passar rápido demais, enquanto imploramos que ele cesse sua fúria, sua impetuosidade, para que aproveitemos melhor os momentos que ficam guardados em nossas memórias.
Sobre esses momentos é preciso ressaltar: na maioria das vezes os deixamos passar sem dar a devida atenção; deixamos passar alegrias, tristezas, amigos, pessoas importantes; tudo porque freqüentemente somos desatentos. Um dia podemos sentir falta de momentos que vivemos ou pior, de momentos que poderíamos ter vivido. Dessa forma é importante viver cada momento atribuindo-lhe a devida importância, saboreando o que a vida nos oferece de melhor.
Isso se mostra ainda mais verdadeiro quando observamos o fazer poético de autores como Castro Alves e Álvares de Azevedo: Alves mostrava a alegria de seus momentos, seus amores, suas paixões; o propósito de sua luta, sua crença num amanhã pelo qual vale a pena viver. E Azevedo, ainda que muito prematuramente tenha expirado, mostrou que apesar de seus medos, suas angústias, soturnas formas e temores, aproveitou o Tempo da forma que lhe pareceu apropriada, sem o arrependimento de ter deixado para trás pendências a cumprir que não fossem aquelas delimitadas pela sua própria e efêmera existência...