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domingo, 4 de abril de 2010

O Poder dos Sonhos: O “Espírito sem Limites” de “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha” em um Paralelo com a Realidade.

Todos já vimos estátuas de pessoas importantes em praças ou parques; bem comum na verdade. Mas e de personagens? Bastante incomum. Pois bem, no centro de Madrid há uma imensa estátua de Dom Quixote e Sancho Pança, os dois protagonistas da obra prima de Miguel de Cervantes y Saavedra, ambos conhecidos no mundo todo e presentes vivamente no imaginário popular há cerca de 500 anos. Eu poderia simplesmente realizar uma síntese do famoso romance e comentá-lo quanto a seus aspectos físicos, estéticos. Em vista de ser tão conhecida a obra, não é necessário o resumo; e seria simplório demais da minha parte realizar tais comentários pragmáticos. Não, o que pretendo fazer (ousadia da minha parte talvez) é penetrar fundo na mente e se possível na alma humana, revelando os simbolismos presentes na obra e levantando questões fundamentais à nossa própria condição humana.
Cervantes talvez tenha ido mais longe do que pretendia. Ao retratar as aventuras (e desventuras) do fidalgo Alonso Quijano (Dom Quixote) nessa que é tanto tragédia quanto comédia, revelou características inerentes ao ser humano que nos tomam como um ímpeto insano que nos permite vencer até mesmo nossas limitações físicas: o espírito sem limites (a busca incessante pela realização dos sonhos, sejam eles possíveis ou não, sempre em busca de aventuras que nos libertam das cadeias da mediocridade cotidiana), a capacidade de sonhar e a coragem para lutar por aquilo que se acredita.
O romance coincide com a época das Grandes Navegações, das Grandes Descobertas, período de mudanças na mentalidade das sociedades, período de declínio dos contos de cavalaria. Fidalgo da pequena região de La Mancha, o depois autoproclamado Dom Quixote de La Mancha, encontrava abrigo em seus livros (como muitos de nós), principalmente novelas de cavalaria. Ansiava realizar grandes feitos, ainda que aqueles que o rodeavam podassem os seus desejos de realizá-los, julgando-o totalmente louco (o que era uma inverdade). Idoso e embevecido pelos livros, Alonso Quijano parte em busca de aventuras; voa alto como um Ícaro grego e tem derretidas suas asas de cera numa queda verdadeiramente triste: ao ser obrigado a abdicar de seu ideal de cavalaria, de seus sonhos, logo ele falece, bastante melancólico e desiludido.
É isso que acontece quando o ser humano torna-se incapaz de sonhar: ele perde a razão de viver, de mirar-se ao espelho e observar uma silhueta vivente sem objetivo algum, sem anseios, sem amores, sem essência. Cervantes mostra isso de forma primorosa. E ainda revela como os sonhos são algo íntimo e precioso, como jóias que têm valor apenas a seus donos: os sonhos de Alonso que, a ele pareciam tão admirados eram vitimas do desdém e do riso alheio. À parte a insanidade senil do protagonista, que atire a primeira pedra aquele que nunca sonhou com algo aparentemente inalcançável! Fica também a seguinte questão: até que ponto a realidade confunde-se à fantasia num ideal quixotesco de realização improvável? Difícil distinguir, mas vale lembrar que às vezes realmente enxergamos apenas o que queremos ver...
Ainda que de forma desajeitada, Dom Quixote acabou tornando seu sonho realidade: tornou-se um verdadeiro cavaleiro, um homem que luta por seus sonhos sem medo de defendê-los, independentemente de ser ridicularizado ou não por isso, enfrentando corajosamente os obstáculos do caminho e sempre seguindo seus ideais de justiça e hombridade, procurando fazer o que era correto não para alcançar fama ou bens pessoais, mas porque era o que devia ser feito, mesmo à sombra de seus desvarios.
Uma mensagem deve ser aprendida: da mesma forma que belos quadros nada seriam sem suas cores, e a bela arquitetura da terra de Cervantes pouco seria sem o gênio de Gaudí, o Homem nada é sem seus sonhos. Então sonhe, sonhe intensamente e busque a realização do ideal de suas paixões, amores e anseios! Ainda que frequentemente nos deparemos com obstáculos e desilusões no caminho, o convite à ventura é irresistível demais para aceitar meras desistências. Selemos então nossos corcéis e partamos ao ritmo de nossos corações (não esquecendo, no entanto a prudência), pois o tempo passa depressa demais para nos contentarmos apenas em ler sobre feitos que poderíamos nós mesmos realizar...

Um comentário:

  1. Bem sei o que é sonhar com algo aparentemente impossível...mas tbm sei que é preciso correr atrás do que queremos. Afinal, o gosto da vitória é sempre melhor quando os obstáculos são maiores.

    Novamente, um texto primoroso, Ivaldo, com palavras que todos precisam ouvir!

    x)

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