Literatura - Expressa

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Se você não existisse...

Tivemos uma briga.
Mais uma decepção que você me causou. Dentre muitas outras.
Mais uma vez que você não soube medir os limites das coisas que você diz e faz. E eu o odiava tanto por isso.
Eu odiava a sua mania de julgar os erros dos outros, quando você mesmo os comete.
Odiava a sua falta de noção a respeito do que é tolerável e do que é ridículo. E como continuava a bater na mesma tecla.
E odiava como você tentava resolver tudo com um sorriso sapeca e um canto desafinado da música de nossos momentos de glória.
Aquilo tudo já me havia saturado a paciência.
Eu poderia dar-lhe um soco se me dirigisse a palavra mais uma vez. E também poderia pedir aos céus para que você nunca houvesse existido. Porque você era, incontestavelmente, o pior amigo do mundo.

Porém, naquela noite tive um sonho; ou pior, um pesadelo, talvez o mais terrível de toda a minha vida.
Em meu pesadelo, você não existia. Não é que tivesse morrido ou ido embora, você, simplesmente, não existia.
Então, você não estava lá, quando eu tinha cinco anos, naquela partida de queimado na escola, onde, na realidade, era onde havíamos nos conhecido.
Você não estava lá para brigar ao meu lado quando arrumei briga com os riquinhos da turma. E, como você não estava lá, acabei apanhando.
Não estava lá para assumir a culpa quando quebrei a janela da vizinha. E como castigo dos meus pais, não fui ver aquele maravilhoso show do circo.
Quando caí da bicicleta, antes daquela grande tempestade, você não estava lá para me levar para casa antes da água cair do céu. Então acabei gripando e deixando a bicicleta para trás.
Não estava na lendária partida de vôlei da quadra 16, para fazer aquele grande levantamento da nossa vitória. Meu time perdeu.
Quando a tempestade caiu naquele dia na sexta série, em que a tarde parecia noite e o chão tremia com a trovoada, você não estava lá para nos distrair com suas piadas e, dali em diante, passei a morrer de medo dos trovões.
Não estava no meu décimo terceiro aniversário, para me dar um estojo de pintura e fazer-me descobrir meu grande sonho.
Fiquei de recuperação em matemática, porque o professor que deveria passar dias e dias ajudando-me a tirar a nota máxima na prova bimestral não existia. O professor que deveria ter sido você.
E não estava lá para enxugar minha lágrimas quando quebrei o coração pela primeira vez, e, logo em seguida, apresentar-me o meu primeiro grande amor.
Você não estava lá em todos os momentos que havia estado, no mundo real. E, por causa disso, no sonho, não vivi vários dos momentos mais felizes de minha existência. Então, tornei-me alguém completamente diferente do que eu era na realidade, do que eu tinha tanto orgulho de ser. Tornei-me alguém infeliz.

Então, acordei exaltada, olhando ferozmente o quarto ao redor, para ter certeza de que fora apenas um pesadelo. Para ter certeza de que você existia e de que eu havia vivido grandes momentos ao seu lado. Acordei para ter certeza de que você estava lá no jogo de queimado, na luta contra os riquinhos, no dia em que quebrei a janela, no aniversário em que me ajudou a descobrir meus sonhos, no dia da queda da bicicleta, dos trovões, e quando sofri minha primeira desilusão amorosa.

Havia uma terrível sensação em meu peito, como se eu houvesse perdido meu chão. O tipo de coisa que só se percebe quando vemos o quão insignificantes somos sem aqueles que nos fazem brilhar.
Depois disso, o que se nota é que as brigas fazem parte de qualquer relação. Se você sabe aproveitá-las, elas servem até para fazer tudo melhor. Nós conseguiríamos lidar com tudo isso. O que eu não conseguiria lidar, era com a infelicidade que eu levaria se você não existisse.
Então, a palavra final é: Que bom que você existe, amigo!

Esta é minha homenagem [um dia atrasada] ao dia do amigo. Já dizia aquela conhecida, bela e marcante música: "Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito...". Então, para que eles nos guardem nos deles também, saibamos valorizá-los. Eles são os anjos[assim como a família] que Deus colocou no nosso caminho, para o cumprimento de nossa missão.

domingo, 18 de julho de 2010

Soneto de um saudosismo nonsense

Suspiro cansado,
De uma lembrança do passado,
De um reencontro que não acontece
Mas que ao coração enternece.

Vôo da alma, em busca de outra alma,
Na qual apenas o encontro nos acalma;
Beleza vítrea, pura como cristal;
De um sentimento, uma história que nunca chega ao final.

Um mar às braçadas certamente eu atravessaria
Para findar essa sina de todo dia,
E serrar em meu peito os grilhões que o prendem

A saudade é boa quando é boa a memória;
Se o desgosto e a mágoa, entretanto subjugarem a lembrança...
Então meus amigos, aí é outra história.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um conto de desilusão

"Eu me pergunto quanto tempo leva para dizer 'eu te amo'." indaguei em baixo tom, fitando o nada.

"Levou-me todo o tempo até achar você." ele respondeu, sem que eu esperasse.

Sorri sem muita vontade, pensando, melancolicamente, em como a vida não nos deixa ter o controle sobre nada. Era uma locomotiva que não obedecia as ordens do maquinista. Virava quando não queríamos virar, freava quando era para seguir em velocidade máxima, seguia em velocidade máxima quando era para frear, e bem aí sempre nos estrepávamos.

E, ali, debaixo de um céu estrelado de outono, sentada perto daquele homem, a distância entre nós nunca pareceu tão grande, e, a falta de autonomia sobre o destino, tão real.

Pensar que um dia fomos amantes, que nos beijamos ardentemente e enlaçamos tardes venturosas sob o sol. Pensar em todas as vezes que dormimos sobre o telefone, depois de horas nos falando, e os momentos esperando, com raiva, no estacionamento, porque ele havia se atrasado. As danças sem música que tomávamos perto do bosque e as bobas brincadeiras de apaixonados. Pensar em todos os planos, para uma vida toda, que fizemos juntos e um dia, em que ele se ajoelhou aos meus pés, e me prometeu a eternidade.

Se o tempo fosse uma estrada, aqueles dias estariam em outra linha. Entre o antes, o hoje e o depois, só cabiam mágoas agora, e um vazio imenso, que nunca poderia ser preenchido, nem por olhares, nem por palavras e, muito menos, por amor.

Nesse momento, olhamos um nos olhos do outro. As cores deles estavam tristes. Depois de tudo que havíamos construído [mas que havia sido brutalmente destruído], em nossa proximidade distante estávamos, tristemente, tentado dizer qualquer coisa. Mas já era tarde demais para dizê-la.

Muitos anos depois, as palavras "eu te amo" continuavam entaladas entre os lábios que nunca mais se abririam.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Bola. Lágrimas. Lição.

No vestiário: a concentração. Palavras corajosas para algo que pode ser consagrador.


Na entrada do estádio: a euforia demonstrada em palmas, gritos e apitos. Para algo que pode ser consagrador.

Na saída do vestiário: a fila nervosa. Lado a lado daquele que pode te derrubar. Segura a mão, da criança que te transmite esperança. Espera que jogue com a mesma inocência da criança. Só espera. Mas vale tudo.

O juiz pega a bola. Provavelmente o momento mais lindo da partida que ainda não começou.

Sinal da cruz ao entrar no campo.

Forma- se a coluna. E torcedores e jogadores interagem, ao som do hino inspirador, que demonstra o amor à pátria.

Batem-se palmas. Arrumam-se no campo. Capitães trocam cumprimentos. Torcedores preparam-se para o espetáculo. Ali, tudo mudaria. Seria tristeza ou extrema alegria.

A moeda gira.

Bola no centro.

O apito ressoa.

Começa o espetáculo.

No campo: o coração bate a duzentos mil, com uma força capaz de tremer um país inteiro.

Na arquibancada: os pescoços esticados para ver quem teria a primeira chance de chegar na grande área.

Uma tentativa. O pescoço estica ainda mais. É agora.

UHHHHHHHHHH. Grito de frustração.

Segunda tentativa. Os olhos faltam saltar das órbitas. A garganta reclama a proferir tantos gritos. Até que acaba em mais uma frustração.

No campo: não há som algum. Toda concentração é pouca. A qualquer momento, os pés podem tocar na bola, para brilhar no jogo...ou por tudo a perder.

Vacilo do adversário e a bola arranca pra frente, guiadas por pés apressados.

Na arquibancada: no momento que os olhos respiram, o jogador aparece, e arrancam um gol da garganta.

No campo: Alívio!

Mas então jogo empaca.

Na arquibancada: xinga xinga.

No campo: ninguém consegue se entender.

Um vacilo.

E tudo vai a perder.

Decepção.

Na arquibancada: um grito de quase dor.

No campo: tem-se que segurar o jogo.

Mas no segura jogo, time não se entende.

Outro vacilo.

Virada do adversário.

Na arquibancada: o grito agora é de dor. A bola atirada ao gol, é como uma navalha, cortando fundo o peito, sem piedade.

No campo: os olhos não conseguem acreditar. Leva-se a mão à cabeça. E agora, meu Deus? O bicho vai pegar.

Mas o bicho pega tão forte, que tudo vai a perder.

Na arquibancada: teme-se olhar o relógio. O tempo é martírio para uma pátria derrotada.

No campo: o desespero. A carga de milhões de pessoas sobre os ombros, ou melhor dizendo, sob os pés.

Mas os pés são fracos demais para agüentar. Fracos demais para dominar a bola sobre a qual o mundo todo está pondo os olhos.

A bola gira e tudo gira ao redor dela.

Uma chance.

Frustração.

Na arquibancada: UHHHHHHHHHHHHHHHHH.

No campo: xinga. E com as mãos na cabeça: Ah! Meu Deus.

As mãos são mais urgentes e tremem como um terremoto ao pedir a ajuda de Deus.

Engraçado é que, quando se ganha, erguem-se os braços aos céus. Quando se perde, não há gratidão para encarar o azul acima de tudo.

Na arquibancada: alguém cai. Já sentindo que não há mais motivo para estar ali.

No campo: ainda há esperança. Mas o que reina é o desespero fatal, o desespero que pode fazer ser tudo ou nada.

Acréscimos.

A torcida decai. Mas ainda há alguns poucos na esperança, no campo e na torcida.

E se a esperança é a última que morre, muita coisa morreu.

O apito soa.

Fim de jogo.

Morre o grito. Morre o sorriso. Morre o orgulho. Nasce a lágrima, que corre como um rio e deságua no choro.

Chora a torcida, chora o técnico, chora o jogador.

O momento em que torcida e jogadores se conectam. Infelizmente, é para derramarem juntos a esperança de um “agora vai”. A esperança de mais dias de euforia. De mais dias de folga. De mais dias de nação unida. De um dia próximo, em que se tocaria o ouro da consagração.

O estádio se esvazia. Mas o mais vazio que fica, é o peito.

Fim de jogo.

Todo mundo, para casa agora. Para ver outro tomar o ouro que deveria ser seu.

Mas é assim mesmo. Para alguns ganharem, outros tem que perder. As coisas acontecem e nem sempre é o dia de elas acontecerem para nós. Tudo que se leva são lágrimas. Mas, se forem espertos demais para aprender, leva-se também úteis lições.

Que ainda assim. Fique o orgulho no peito. Que ainda assim, fique o amor à camisa e não ao prêmio. Porque esta é lição que deve ficar. Só se deve levar para casa, o merecido.

Então os dias recomeçam.

A bola se esconde por quatro anos.

Só que ela um dia ela volta. Ela sempre volta.
E que quando ela tocar nossos pés novamente, brasileiros, seja para termos a convicção de que, dessa vez, é para gritar novamente o canto que há tanto tempo está preso nas nossas gargantas: É CAMPEÃO!