No vestiário: a concentração. Palavras corajosas para algo que pode ser consagrador.
Na entrada do estádio: a euforia demonstrada em palmas, gritos e apitos. Para algo que pode ser consagrador.
Na saída do vestiário: a fila nervosa. Lado a lado daquele que pode te derrubar. Segura a mão, da criança que te transmite esperança. Espera que jogue com a mesma inocência da criança. Só espera. Mas vale tudo.
O juiz pega a bola. Provavelmente o momento mais lindo da partida que ainda não começou.
Sinal da cruz ao entrar no campo.
Forma- se a coluna. E torcedores e jogadores interagem, ao som do hino inspirador, que demonstra o amor à pátria.
Batem-se palmas. Arrumam-se no campo. Capitães trocam cumprimentos. Torcedores preparam-se para o espetáculo. Ali, tudo mudaria. Seria tristeza ou extrema alegria.
A moeda gira.
Bola no centro.
O apito ressoa.
Começa o espetáculo.
No campo: o coração bate a duzentos mil, com uma força capaz de tremer um país inteiro.
Na arquibancada: os pescoços esticados para ver quem teria a primeira chance de chegar na grande área.
Uma tentativa. O pescoço estica ainda mais. É agora.
UHHHHHHHHHH. Grito de frustração.
Segunda tentativa. Os olhos faltam saltar das órbitas. A garganta reclama a proferir tantos gritos. Até que acaba em mais uma frustração.
No campo: não há som algum. Toda concentração é pouca. A qualquer momento, os pés podem tocar na bola, para brilhar no jogo...ou por tudo a perder.
Vacilo do adversário e a bola arranca pra frente, guiadas por pés apressados.
Na arquibancada: no momento que os olhos respiram, o jogador aparece, e arrancam um gol da garganta.
No campo: Alívio!
Mas então jogo empaca.
Na arquibancada: xinga xinga.
No campo: ninguém consegue se entender.
Um vacilo.
E tudo vai a perder.
Decepção.
Na arquibancada: um grito de quase dor.
No campo: tem-se que segurar o jogo.
Mas no segura jogo, time não se entende.
Outro vacilo.
Virada do adversário.
Na arquibancada: o grito agora é de dor. A bola atirada ao gol, é como uma navalha, cortando fundo o peito, sem piedade.
No campo: os olhos não conseguem acreditar. Leva-se a mão à cabeça. E agora, meu Deus? O bicho vai pegar.
Mas o bicho pega tão forte, que tudo vai a perder.
Na arquibancada: teme-se olhar o relógio. O tempo é martírio para uma pátria derrotada.
No campo: o desespero. A carga de milhões de pessoas sobre os ombros, ou melhor dizendo, sob os pés.
Mas os pés são fracos demais para agüentar. Fracos demais para dominar a bola sobre a qual o mundo todo está pondo os olhos.
A bola gira e tudo gira ao redor dela.
Uma chance.
Frustração.
Na arquibancada: UHHHHHHHHHHHHHHHHH.
No campo: xinga. E com as mãos na cabeça: Ah! Meu Deus.
As mãos são mais urgentes e tremem como um terremoto ao pedir a ajuda de Deus.
Engraçado é que, quando se ganha, erguem-se os braços aos céus. Quando se perde, não há gratidão para encarar o azul acima de tudo.
Na arquibancada: alguém cai. Já sentindo que não há mais motivo para estar ali.
No campo: ainda há esperança. Mas o que reina é o desespero fatal, o desespero que pode fazer ser tudo ou nada.
Acréscimos.
A torcida decai. Mas ainda há alguns poucos na esperança, no campo e na torcida.
E se a esperança é a última que morre, muita coisa morreu.
O apito soa.
Fim de jogo.
Morre o grito. Morre o sorriso. Morre o orgulho. Nasce a lágrima, que corre como um rio e deságua no choro.
Chora a torcida, chora o técnico, chora o jogador.
O momento em que torcida e jogadores se conectam. Infelizmente, é para derramarem juntos a esperança de um “agora vai”. A esperança de mais dias de euforia. De mais dias de folga. De mais dias de nação unida. De um dia próximo, em que se tocaria o ouro da consagração.
O estádio se esvazia. Mas o mais vazio que fica, é o peito.
Fim de jogo.
Todo mundo, para casa agora. Para ver outro tomar o ouro que deveria ser seu.
Mas é assim mesmo. Para alguns ganharem, outros tem que perder. As coisas acontecem e nem sempre é o dia de elas acontecerem para nós. Tudo que se leva são lágrimas. Mas, se forem espertos demais para aprender, leva-se também úteis lições.
Que ainda assim. Fique o orgulho no peito. Que ainda assim, fique o amor à camisa e não ao prêmio. Porque esta é lição que deve ficar. Só se deve levar para casa, o merecido.
Então os dias recomeçam.
A bola se esconde por quatro anos.
Só que ela um dia ela volta. Ela sempre volta.
E que quando ela tocar nossos pés novamente, brasileiros, seja para termos a convicção de que, dessa vez, é para gritar novamente o canto que há tanto tempo está preso nas nossas gargantas: É CAMPEÃO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário