Literatura - Expressa

Literatura - Expressa - Literatura!!!







sexta-feira, 2 de julho de 2010

Bola. Lágrimas. Lição.

No vestiário: a concentração. Palavras corajosas para algo que pode ser consagrador.


Na entrada do estádio: a euforia demonstrada em palmas, gritos e apitos. Para algo que pode ser consagrador.

Na saída do vestiário: a fila nervosa. Lado a lado daquele que pode te derrubar. Segura a mão, da criança que te transmite esperança. Espera que jogue com a mesma inocência da criança. Só espera. Mas vale tudo.

O juiz pega a bola. Provavelmente o momento mais lindo da partida que ainda não começou.

Sinal da cruz ao entrar no campo.

Forma- se a coluna. E torcedores e jogadores interagem, ao som do hino inspirador, que demonstra o amor à pátria.

Batem-se palmas. Arrumam-se no campo. Capitães trocam cumprimentos. Torcedores preparam-se para o espetáculo. Ali, tudo mudaria. Seria tristeza ou extrema alegria.

A moeda gira.

Bola no centro.

O apito ressoa.

Começa o espetáculo.

No campo: o coração bate a duzentos mil, com uma força capaz de tremer um país inteiro.

Na arquibancada: os pescoços esticados para ver quem teria a primeira chance de chegar na grande área.

Uma tentativa. O pescoço estica ainda mais. É agora.

UHHHHHHHHHH. Grito de frustração.

Segunda tentativa. Os olhos faltam saltar das órbitas. A garganta reclama a proferir tantos gritos. Até que acaba em mais uma frustração.

No campo: não há som algum. Toda concentração é pouca. A qualquer momento, os pés podem tocar na bola, para brilhar no jogo...ou por tudo a perder.

Vacilo do adversário e a bola arranca pra frente, guiadas por pés apressados.

Na arquibancada: no momento que os olhos respiram, o jogador aparece, e arrancam um gol da garganta.

No campo: Alívio!

Mas então jogo empaca.

Na arquibancada: xinga xinga.

No campo: ninguém consegue se entender.

Um vacilo.

E tudo vai a perder.

Decepção.

Na arquibancada: um grito de quase dor.

No campo: tem-se que segurar o jogo.

Mas no segura jogo, time não se entende.

Outro vacilo.

Virada do adversário.

Na arquibancada: o grito agora é de dor. A bola atirada ao gol, é como uma navalha, cortando fundo o peito, sem piedade.

No campo: os olhos não conseguem acreditar. Leva-se a mão à cabeça. E agora, meu Deus? O bicho vai pegar.

Mas o bicho pega tão forte, que tudo vai a perder.

Na arquibancada: teme-se olhar o relógio. O tempo é martírio para uma pátria derrotada.

No campo: o desespero. A carga de milhões de pessoas sobre os ombros, ou melhor dizendo, sob os pés.

Mas os pés são fracos demais para agüentar. Fracos demais para dominar a bola sobre a qual o mundo todo está pondo os olhos.

A bola gira e tudo gira ao redor dela.

Uma chance.

Frustração.

Na arquibancada: UHHHHHHHHHHHHHHHHH.

No campo: xinga. E com as mãos na cabeça: Ah! Meu Deus.

As mãos são mais urgentes e tremem como um terremoto ao pedir a ajuda de Deus.

Engraçado é que, quando se ganha, erguem-se os braços aos céus. Quando se perde, não há gratidão para encarar o azul acima de tudo.

Na arquibancada: alguém cai. Já sentindo que não há mais motivo para estar ali.

No campo: ainda há esperança. Mas o que reina é o desespero fatal, o desespero que pode fazer ser tudo ou nada.

Acréscimos.

A torcida decai. Mas ainda há alguns poucos na esperança, no campo e na torcida.

E se a esperança é a última que morre, muita coisa morreu.

O apito soa.

Fim de jogo.

Morre o grito. Morre o sorriso. Morre o orgulho. Nasce a lágrima, que corre como um rio e deságua no choro.

Chora a torcida, chora o técnico, chora o jogador.

O momento em que torcida e jogadores se conectam. Infelizmente, é para derramarem juntos a esperança de um “agora vai”. A esperança de mais dias de euforia. De mais dias de folga. De mais dias de nação unida. De um dia próximo, em que se tocaria o ouro da consagração.

O estádio se esvazia. Mas o mais vazio que fica, é o peito.

Fim de jogo.

Todo mundo, para casa agora. Para ver outro tomar o ouro que deveria ser seu.

Mas é assim mesmo. Para alguns ganharem, outros tem que perder. As coisas acontecem e nem sempre é o dia de elas acontecerem para nós. Tudo que se leva são lágrimas. Mas, se forem espertos demais para aprender, leva-se também úteis lições.

Que ainda assim. Fique o orgulho no peito. Que ainda assim, fique o amor à camisa e não ao prêmio. Porque esta é lição que deve ficar. Só se deve levar para casa, o merecido.

Então os dias recomeçam.

A bola se esconde por quatro anos.

Só que ela um dia ela volta. Ela sempre volta.
E que quando ela tocar nossos pés novamente, brasileiros, seja para termos a convicção de que, dessa vez, é para gritar novamente o canto que há tanto tempo está preso nas nossas gargantas: É CAMPEÃO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário