Literatura - Expressa

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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uns Riscos.

Um Risco.


Sem muita significância.

Mas de grande Inspiração.

Dois Riscos.

A mente fumaça uma criatividade imensa.

Três riscos.

Uma forma feita.

Uma nova vida gestante.

Quatro riscos.

Tudo apenas olhos enigmáticos.

Cinco Riscos.

Nariz centralizado dá o primeiro suspiro de vida.

Seis Riscos.

Decifram (em parte) os olhos enigmáticos: mas ela está sorrindo, apreensiva ou calada?

Sete Riscos.

Tudo ganha forma. A forma ganha vida. A vida ganha em vidas.

Oito Riscos.

O corpo idealizado é traduzido em papel.

Nove Riscos.

A beleza corporal e intrínseca parece querer sentir o mundo ao redor.

Dez Riscos.

-“Fala!”

E assim ela se fez!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jean-Pierre (Parte 2)

Abrindo o velho volume, Jean lê um curioso epíteto: “Aquele que ao astuto tenta ludibriar, certamente arrepender-se-á e ao que ao ouro de tolo exerce domínio e arrogância, decerto mais tolo será do que nestas páginas poder-se-ia registrar, pois apenas ao valor do trabalho o ouro pode recompensar”. Enchendo os pulmões de ar, o garoto assopra, levantando poeira do livro, que como tudo no velho sobrado, parecia surgido da própria poeira. A linguagem, Jean reconheceu, era o francês arcaico de uso corrente há séculos atrás no sudeste da França. Voltou a avidamente a ler.
“Neste ano de 1684 de Nosso Senhor, este monge que aqui subscreve, inicia as crônicas dos fatos que às suas pupilas marcaram para sempre, da fabulosa terra de Estrasburgo...”. Incrível, surpreendeu-se Jean; coincidentemente essas crônicas tratavam de sua cidade, mas em outro tempo, tempo não tão distante, mas certamente inquietante, tempo de mudanças, o alvorecer em meio a Trevas. Virou a página retornando ao livro.
“Pouco tempo depois de reformada nossa Santa Catedral, mudou-se para aqui, vindo do Leste, para além da Cidade Eterna, um magiar que da vida era títere. Portando o que podia carregar, dentre caixas, ferramentas e o pouco dinheiro que tinha, logo conseguiu, próximo a floresta moradia modesta. Os campônios curiosos, dentre as árvores espreitavam, a fumaça azulada vertida pela longa chaminé, enquanto sentado ao pôr-do-sol, o estranho empunhava um alegre flautim”.

Alguma paz


"Dei asas ao tempo
esquecendo as dores que passam enevoadas
Que voe sem pressa
e tão somente ache o regresso
quando houver descoberto
os segredos da alma."

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O tempo errante do fazedor de relógios

    Morava no final da rua Salubre, em um luxuoso casarão que pertencia à sua família desde que o tempo é tempo. Contudo, não se pode dizer exatamente que a casa habitaram. Cada membro antepassado passara mais tempo no pequeno galpão no fundo da propriedade. Uma oficina. Na porta de madeira, a pintura já descascando, e um relógio com ela pintado marcava um horário em ponteiros que nunca mudavam de lugar: 07:40. A hora em que o relojoeiro começava o trabalho do dia.
    Fazia relógios de quase todos os tipos e tamanhos. Não todos os tipos, porque odiava relógios digitais. Dizia serem uma ofensa a arte de marcar o tempo. Um elemento tão primoroso merece ser contado com ponteiros feitos de metal precioso, e a estrutura do objeto merecia um refinamento digno da beleza das coisas mais belas. Nada de traços grotescos. Só delicadeza. Eram os relógios mais caros da região. E os mais bem feitos que qualquer um jamais vira. A demanda sempre fora grande.
   E era "negócio de família". Não, não tradição. Ele não gostava que assim denominassem. Tradiçao era uma palavra fria demais para um homem que nunca se apercebia da passagem do tempo. Para ele, cada relojoeiro do qual era descendente ainda praticava tal profissão. Não estava mortos. Todos incorporavam seus espíritos e se tornavam um só toda vez que o relojoeiro fazia seus relógios. E esse foi seu maior erro.
   Graças à seus relógios, esqueceu de viver. Esqueceu que havia um mundo além da oficina. Esqueceu que haviam pessoas passendo nas ruas, folhas balançando ao vento, rios refletindo o céu, divertidas e estreladas noites em bares e restaurantes. Esqueceu que todos crescem, e não nascem já grandes demais. Apaixonam-se, casam e tem filhos...netos. Esqueceu de amar alguém. E, acima de tudo, esqueceu que todos morrem. Esqueceu que o tempo passa...até mesmo para um fazedor de relógios.
   Um dia, na oficina, um forte baque no coração. Sem conseguir ficar de pé, o relojoeiro caiu no chão. À frente, um velho espelho, nunca usado, e uma imagem que ele nunca havia percebido. Na superfície do espelho, flutuava um rosto pálido e velho demais para erguer-se sobre qualquer pescoço. Pensou que era o rosto de seu avô, ou seu pai, pois parecia-se com eles. Por fim, percebeu o cruel. O velho de cabelos brancos era o próprio relojoeiro, ali, caído ao chão como um marionete.
   Perguntou-se como havia envelhecido tanto? Quando havia, ao menos, envelhecido?
   O tempo sempre pareceu ao relojoeiro pertencer. Tão esplêndido tal elemento se fazia nas mãos dele. Fizera do tempo mais do que um sustento. Dele substraíra sua vida. Uma obra de arte.
    Um fatal obra de arte.
     Dizem que, no fim de tudo, lembramos de tudo que vivemos. Aqui há uma exceção. Ele não se lembrou de tudo o que viveu. O que de tão interessante em passar a vida literalmente toda em uma oficina de relógios? Lembrou-se do que não viveu; e foram tantas as coisas! Um pensamento doloroso demais.
     Sem banhos no mar, ou na chuva. Sem danças empolgantes, ou admiração das estrelas, ou bolhas de sabão. Sem jogos de futebol. Sem afeto. Sem mulher. Sem filhos. Sem vida; o maior arrependimento.
     Eram os últimos segundos quando percebeu que o tempo a ele não pertencia, como sempre imaginara. Nunca lhe havia pertencido. O tempo não o havia poupado, mesmo com todo cuidado que ao mesmo dera. Amaldiçoou-o por isso.
    Um último suspiro e qualquer pensamento seu silenciou-se para sempre.
    Pobre relojoeiro.
    Em sua mão, agora para sempre inerte, a mesma que havia ajudado tantos a marcar o tempo, o último relógio, que ele havia forjado há poucos minutos, vivia seus primeiros instantes, mas o seu som sempre fora e sempre será eterno. Talvez você saiba, ele vai assim: TIC TAC, TIC TAC, TIC TAC...

domingo, 23 de maio de 2010

Jean-Pierre (Parte 1)

Jean-Pierre finalmente acorda. Depois de tamanha queda, era de se esperar que a inconsciência logo tomasse conta do garoto. A curiosidade quase havia feito mais uma vítima. Desbravando um velho sobrado que talvez houvesse sido algum tipo estranho de loja ou algo semelhante, Jean havia tropeçado em um velho baú de madeira. Intrigado, resolve tentar a sorte no velho fecho de cobre, que cede facilmente ante uma leve pressão dos dedos do rapaz; o baú como tudo mais naquela casa havia sido deveras castigado pela ação do Tempo. Com o pé direito ainda latejando de dor, Pierre observa o conteúdo do baú: algumas moedas de cobre, tubos de uma linha quase transparente, pedaços de pano e ao centro, um grande volume em capa dura.
Na Alsácia-Lorena, entre a França e a Alemanha, existe uma cidade bastante antiga e imponente de nome Estrasburgo. Conta-se que há alguns séculos quando os tempos ainda eram de Trevas, um estranho episódio ocorreu na então pacata e isolada Estrasburgo.

... E é assim que se conjuga!

Eu disserto

Tu discordas

Ele concorda

Nós discutimos

Vós debateis

Eles refletem

Vocês aprendem.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ele caminha em beleza

Ele caminha em beleza
com luz nos olhos
e mel nos lábios
cintila em amor
desejoso de alguém

Manhã, tarde e noite
misturam-se em seu ser
três partes de um cavalheiro
um poeta!
despertando ao nascer
nascer do sol!
nascer da vida!
renascemos em amor

E ele caminha em beleza
como a luz da lua de prata
cintilando num lago encatando
como um feitiço gentil
de uma mago dourado
ele caminha,
o meu amado

O tempo esquece
envelhece
o momento se vai
o amor, jamais

E ainda assim
ele caminha em beleza
É um homem?
não! uma miragem!
É um homem?
não! falsa imagem!

É explosão em desvairado sentimento
por vezes, um tormento
mas ele caminha em beleza
manhã, tarde e noite
misturam-se em seu ser
é a metade de um amor
e tudo que há em mim.

sábado, 15 de maio de 2010

Despedidas

     Eram sete e meia da manhã e meu coração estava quase batendo fora do peito. Eu não costumava acordar cedo, mas naquele dia era por uma boa razão, ou pior, uma infeliz razão. Meus olhos estavam apertados e, meu pensamento, dividido entre o amigo ao meu lado e a tentativa de não chorar.
     Eu não o via, mas o ouvia se despedir de seus familiares. A sua mãe parecia estar tendo uma enorme dificuldade em segurar o choro, o pai dava-lhe tapas nos ombros, e os irmãos perguntavam se poderia usar o quarto dele como academia. Só que eu tinha certeza de que o que ficaria era muito mais do que um quarto vazio.
    Quando ele se voltou para mim, ajeitando a mochila nos ombros, eu olhei para além da parede de vidro à minha frente, para o avião pousado na pista de embarque. Perguntei-me quantas pessoas aquele avião já havia levado, quantas vidas havia ajudado a inovar, e quanta dor e saudades havia deixado para trás. Hoje ele estaria decolando com meu maior amigo, e levando uma grande parte do meu coração.

"Vai me dar um abraço?", meu amigo perguntou.

  Com muita dificuldade, voltei meus olhos para ele e memorizei melhor seu rosto. Eu, certamente, nunca o esqueceria, mas eu receiava que ele me esquecesse. Quando a realidade nova é melhor que a realidade velha [da qual eu logo faria parte] esquecer quem uma vez amamos era uma pequena e frequente parte do processo. Então, ele me abraçou, uma das poucas vezes que o havia feito na vida. E desta vez era para de despedir.

"Eu mandarei notícias", ele falou.

"E presentes", brinquei, "Sério."

"E daqui a alguns anos, cumprirei minha promessa, e te levarei comigo."

  Eu já o tinha ouvido dizer aquilo, e tentava me confortar com isso. Mas não mais pude conter as lágrimas, nem ele as suas poucas.
  Tinha pensado em mil coisas para dizer naquele momento, sempre desejando silenciosamente que não precissasse dizê-las, pois tinha esperanças de que ele não partisse. No entanto, foram vãs as esperanças e três palavras foram tudo que saiu:

"Sentirei sua falta."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ele não sabia ler

Eram seus últimos dias de vida. Sua patologia era única e, de acordo com os diagnósticos, “delicada”, quase sempre – quando tratada sem muita fé – incurável. Como ele mesmo costumava dizer: A vida era curta demais. Só lhe restava tempo para gastar seu dinheiro, fruto de um árduo trabalho, sempre ganhando votos de mendigos (que não sabiam nem ler nem escrever e, muito menos, tinham o que comer) detrás de sua mesa em seu gabinete político-eleitoral. E sua vida fora assim: muitas felicidades, mulheres, festas e festas. Dinheiro! Talvez por nunca se preocupar com o “amanhã”, nunca teve a preocupação de filhos, esposa, família. Porém, vendo sua vida passar em uma ampulheta de areias finas, todo o arrependimento que não havia se apresentado durante toda a sua vida, decidiu – por completo – em seu último suspiro, mudar tudo. Tal que assim, o homem resolvera tentar ajudar alguém, qualquer pessoa que fosse de alguma forma. Talvez por um motivo posterior – isso estava intrínseco no seu eu de ser. Mas assim, resolveu abrir mão de seu dinheiro (deixando apenas uma pequena quantia para a sua mãe, apesar de que não tivessem mais tanto contato) junto a uma carta epitáfio em forma de “testamento”. Seria um testamento diferente, no qual escrevera como fora sua vida, dando conselhos e cuidados que seu “descendente” deveria tomar para não se ludibriar com a quantia em dinheiro que iria “ganhar”.


O não-tão esperado dia havia chegado. Após se despedir de todos os seus bens-materiais – amados como filhos – que possuía, vestira seu melhor paletó com um chapéu – que serviria para cobrir seus próprios olhos, a esta hora à beira do pranto – e se encaminhou a uma pequena pracinha. Sentou-se em um banquinho acompanhado por um velho poste ainda apagado e pôs-se a pensar... Após minutos viajando em seu próprio pensamento, as horas acabaram se passando em segundos e, enfim, o fim estava pra chegar na hora marcada. Enrolara sua carta ao bolo de dinheiro e cobriu com as duas mãos sobre suas pernas. Esperou. Esperou. A luz do poste começava vagamente a se acender. Esperou. Começou a sentir uma reviravolta dentro de si. Estava começando. Mas, para não estragar o disfarce, sofrera em silêncio. Levantou-se e deixou o dinheiro embrulhado em sua primeira e última poesia e saiu às pressas. Escondera-se em um pequeno cantinho arborizado onde poderia disfarçar melhor sua autofagia. Até que enfim, um “estranho” sentara no banquinho. Jovem ainda, com a cabeça atribulada. Meio sem jeito. Roupas furadas. Sujo. Uma pessoa que ele nem notaria ao passar pela sua frente. Tudo estava ocorrendo como deveria, o menino desembrulhara o papel e olhara o dinheiro. Felicidade quase que instantânea. Observando pelas árvores, esperava apenas que o jovem lê-se a carta. E assim seria. O menino guardara o dinheiro dentro do seu peito com um olhar desconfiado e começara a olhar fixamente para o papel. Ficara olhando por um tempo. Atentamente. Ele estaria entendendo? Não esboçava nenhuma reação. Costumava duvidar da capacidade das pessoas constantemente, até que o jovem amassou o papel, jogou fora e foi andando naturalmente, agora com o peito estufado. O coração do homem não agüentou o rumo que a situação tinha se levado e desfaleceu-se.

Acabei e fechei a janela

Uma chuva forte caía.

Transbordou tudo o que eu havia sentido desde o início do dia:

Lembranças de você.

Daqueles dias que eu nem sentia a chuva passar, porque estava com você.

Ou daquele dia que deixei passar,

E hoje,

Essa mesma chuva que me tirou de você

– como já diz a melodia

– “...quer é trazer você pra mim.”

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mais um pouco de utopia


Eu quero
mais um pouco de utopia
mais um dia de alegria
mais uma lágrima de ilusão

Eu quero
mais um céu desanuviado
mais um suspiro apaixonado
mais voo de balão

Eu quero
mais um lago no outono
mais realidade feita de sonhos
mais uma dança noturna

Eu quero
mais brilho no olhar
muito mais perda de ar
mais palavras no silêncio
e fulgor no coração

Eu quero
ainda poder sentir a dor
de estar longe de um amor
ou procurando fantasia

E todo dia
sempre que o sol se por e raiar
erguer o braços e gritar:
Eu quero
mais um pouco de utopia!


terça-feira, 4 de maio de 2010

Mas, amanheceu. Me enganei.

A escuridão da noite ia se dissipando segundos afins

A fim de mostrar que já estava pondo a mesa do sol.

O preto se misturava às nuvens amarelo-flamejantes

Pelos virgens picos das montanhas.

A perfeição perfeita.

A imagem hachurada pela densa e fria neblina, que esfumaçava ao dar o retoque final

Me fazia acreditar em mitos e sonhos

...

Mas, amanheceu.

As formas indefinidas

Que antes eram surrealizadas pela imaginação

Agora, se mostravam do jeito que realmente são.

Enganei-me.

As nuvens amarelo-flamejantes são, na verdade, fogo.

Os virgens picos das montanhas já não são tão virgens assim,

Na verdade, são as chaminés das fábricas que se encontram pelas esquinas.

A fumaça...

Ah, a fumaça!

Era a própria fumaça!

Foi ai que me enganei.