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sexta-feira, 15 de julho de 2011

O último adeus

           Você foi um dos meus grandes amigos. O mais impetuoso. O mais torturado. O mais desregrado. O mais valente e, de tantos, companheiro.

Sem aviso, eu vi você ser carregado pra minha vida, chegando como só mais uma novidade isenta de muitas promessas, quando ambos ainda éramos crianças o bastante para saber quão grande, difícil, e empolgante, nossa épica aventura seria.

Eu ouvi os comentários de quão promissor você era. E nós dois nem mesmo sabíamos como ser promissor é importante para os outros e para o futuro nós. No começo, que parece ter sido séculos atrás, éramos só crianças, vivendo pequenas aventuras, que soavam como boas fantasias de uma tarde chuvosa e até mesmo de uma tarde ensolarada.

A nossa porta de abertura foram as palvras. As palavras que você me apresentou. As palavras com as quais eu comporia a teia da minha imaginação.Você vinha com elas, andando, correndo ou voando de mãos dadas com elas; vinha com as imagens delas também, estacionava em minha vida momentos de intensa aventura, e depois ia embora, prometendo voltar.
E não era 'tchau' que eu dizia quando você partia, era um correspondindo e relutante 'até logo'. E então contava os dias e as noites até você trazer nova empolgação à minha vida que, lentamente, começava a adquirir ares de responsabilidades, assim com a sua. Então, quando você voltava, eu acenava efusivamente e corria até você, dizendo 'finalmente, hein, garoto desaparecido!'.

Você era meu refúgio de todas as horas. Eu corri com você. Conheci figuras fascinantes com você. Aprendi a voar com você. Enfrentamos os valentões e o que mais nos perturbasse. Vi você se apaixonar. Rir. Emaranhar-se pelos momentos que te mudariam para sempre. Vi você ficar triste. Perder amados. E chorei com você. Segurei a respiração ao passo que meu coração apertava ao te ver encarar perigos tão grandes. Mas você enfrentava tudo e eu dizia 'vá em frente'.

Eu senti seus medos. Com você senti a dor e a alegria de ter que crescer, e, seja lá como temos que crescer, os seus vilões se traduziam de alguma forma na minha realidade.

E quantas noites eu não passei acordada, sob a fraca luz da lamparina, só para dividir contigo seus amigos, suas quedas, suas lutas, suas lágrimas, suas perdas, e as vitórias há tanto tempo esperadas.

Nós dançamos. Nós rimos. Nós choramos. Passamos momentos de aperto. Amamos. Odiamos. Crescemos anos. Lutamos e ficamos profundamente feridos. No entanto, a força que vem dos amigos, dos amados, da eterna esperança, puxou-nos para cima, fez-nos levantar quando nossas feridas eram tão profundas que anseiamos pela escuridão. Continuamos lutando, cada um enfrentando o desafio que lhe cabia. Por que, que grande aventura seria essa se não enfrentássemos os vilões? Se não caíssemos, relegados à fraqueza, mas encontrássemos o espírito vívido, eterno, de sermos heróis da esperança. Assim fizemos para levantar a taça que guarda a paz tão desejada. A taça que guarda a alegria de ver tantos anos árduos finalmente acabar. Foram tantos os episódios e tantas as lembranças.

E, agora, nós dizemos adeus. Em vão, eu esperei que fosse só mais um 'até logo'. Mas todos sabiam que seria o previsto 'adeus'. Porém, desta vez, como em tão poucas outras, eu me sinto triste que você finalmente tenha vencido de uma vez por todas. Porque, depois de tantos anos ávida por te ver vencer no "grand finale", você era a única constante com a qual eu podia contar nestes anos de tantas mudanças. E agora a minha constante vai embora, a lembrança de dias tão incríveis, e eu ficarei só com as mudanças. Você me abandona, mesmo que sem querer.

Ainda assim, seria um absurdo não te agradecer. Agradecer pelas risadas, pelas lágrimas, pelas brigas, pela apreensão, pelas brincadeiras, pela amizade, pelos 'até logo', pelos dias tenebrosos e a fé em dias melhores, pelas muitas e muitas sensações e inspiração. Quantas vidas você mudou! E como seria a minha se não houvesse havido você naquela, agora, longíqua parte do meu caminho.

Eu te agradeço, embora não esteja preparada para dizer 'adeus'. Quando algum dia eu estaria pronta, afinal? Você deveria saber que está me machucando agora. Um tipo esquisito de machucado. O único causado pela vitória do mocinho após uma longa jornada. É a ferida da despedida.

Você ganhou a sua luta; mas essa vitória sela o nosso 'adeus'. Um adeus que machuca. Um adeus que nostalgia. E esse ferimento deixará uma cicatriz. Uma cicatriz para me lembrar dos bons tempos inocentes; uma cicatriz pra me lembrar da nossa fabulosa jornada. Uma cicatriz para me lembrar que os bons dias existem, mas tem que passar e a vida tem que mudar. É isso que faz o nosso adeus.

           E parece uma ironia, Harry, que no momento que a sua cicatriz deixa de arder, a minha só esteja começando a sentir a(r) dor.


                                      


Pelos risos. Pelos choros. Pelas noites escondidas ao lado da cama para chegar até o fim dos capítulos. Pelos dias de contagem regressiva para ver a próxima façanha de Lord Voldermort e como O-garoto-que-sobreviveu e seus amigos escapariam. Pelas tantas vidas atingidas pelas histórias. Ficam os agradecimentos e as saudades ao famoso bruxinho com a cicatriz em forma de um raio.

E é assim que ficamos. Sem a promessa de um novo 'olá'.