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sábado, 24 de abril de 2010

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.



Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.



A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.



Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.



Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.



E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,



E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.


                        por Fernando Pessoa


Pergunte a si mesmo que tipo de sentimento queres para abrigar teu coração, pois um dia, se tiveres sorte, talvez irás achar a tua alma, a alma que nunca abrigou teu corpo, e devolverás a alma de alguém que possuía a tua. Não somos completos. Há sempre alguém abrigando o que realmente nos faz feliz. Amor[Eros] e Alma[Psique] são um casamento raro de se achar, mas não impossível, pois é eterno. Sempre foi. E sempre será.

Um comentário:

  1. Perfeita poesia (além de bela e divinamente articulada); perfeito comentário, porque ainda que com a modernidade venha o embrutecimento das almas e dos corações e o descaso em relação ao verdadeiro valor das coisas e pessoas, certas coisas nunca mudarão enquanto houvermos de cultivar a sagacidade de agir de acordo com o que acreditamos e de acordo como as coisas ideais realmente deveriam ser.

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