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sexta-feira, 23 de abril de 2010

O diário de um soldado

Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítida. Acho que foi isso que eu aprendi quando fui para a guerra... mas e agora, onde está aquela bravura?


Por que estava ali? O que eu iria ganhar? O que eu iria... perder? Cada segundo pareciam minutos, cada minuto, horas, e cada hora pareciam intermináveis séculos. O céu era escuro, parecia ficar mais escuro a cada tiro que se dava, a cada corpo que caía em combate. O ar tinha um cheiro de embrulhar o estômago, pois misturavam o mal-cheiro dos corpos mortos com sangue e pavor.

Estávamos em Dresden, uma pequena cidadezinha que se encontrava em ruínas e desabitada, no interior da Alemanha. Não dormia há dias, minha tropa - ou, o que sobrou do último ataque – continuava estática, sem condições de recuar ou avançar, esperando um vacilo do inimigo.

Começou a chover. Olhei para o céu, aquele céu que me tirava as esperanças, agora, parecia sorrir. O som daquelas gotas caindo no chão, parecia o som de uma grande orquestra tocando só para mim. Será que estava delirando?

De repente, o som da chuva foi abafado por várias bombas seguidas de vários tiros de metralhadora. Por um instante não quis deixar aquele momento glorioso, mas para sobreviver, era preciso. Ouvi gritos de socorro... sangue jorrando de todos os lados...os “grandes homens” pareciam pequenos meninos.

Os séculos, pareciam milênios, os milênios, o infinito... Ainda chovia? Tudo parecia calmo novamente. O ataque havia acabado? Não conseguia ver nada, não distinguia nada. Uma esperança... com incerteza. Voltei a sentir os pingos de água da chuva em meu rosto... então sorri.

Escrito em 2006.
23 de Abril - Dia Mundial do Livro.

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