— Pai, quero ir à Europa.
Meu pai levantou os olhos do prato e me encarou.
— Como é que é?
— Quero ir à Europa.
Seus olhos ficaram fixos no meu rosto por alguns segundos, céticos. Eu tinha certeza que ele ia recusar.
Abaixou os olhos e disse:
— Claro. Falamos disso depois.
— Sério?
— Sério.
Depois, eu estava deitada na minha cama, assistindo televisão, pensando se ele realmente estava falando a verdade ou só debochando.
Meu pai entrou no quarto, desligou a TV e jogou-me algo.
— Boa viagem à Europa.
Calmamente, ele saiu do quarto. Sem entender, olhei para o livro que ele havia jogado em minhas mãos.
Os dias que se seguiram foram os melhores da minha vida. Não só visitei a Europa, mas também a China, suas muralhas e seus samurais; a Índia e seus deuses; o Brasil colônia e seus engenhos; e cada canto do mundo que ainda não fora totalmente explorado. Até outra galáxia visitei.
Conheci Luís XIV, o faraó Quéops, Jesus Cristo, Aluísio de Azevedo, Dostoiévski, José Saramago e muitos outros amigos eternos.
Resolvi crimes e apliquei castigos, voei com dragões, lutei contra nações de Marte, chorei as dores de um amor, fui julgada, desci vinte mil léguas submarinas e adquiri títulos reais.
E no final de tudo, com tantas vidas, cheias de emoções e aventuras várias, que eu havia experimentado, eu só tinha uma coisa a dizer: Bendito o dia em que eu quis ir à Europa!
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