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terça-feira, 12 de outubro de 2010
O sabor da inocência
A ordem da mãe para que o garoto entrasse foi, definitivamente, a última. E veio com um recheio amargo de uma, há muito prometida, palmada.
E se o gosto da ameaça era amargo, ele não queria nem saber do da palmada.
Relutante, entrou em casa, tomou banho com gosto de repolho e comeu uma janta que não lhe agradou nem um pouco o estômago.
Um pouco de tv com sabor de chocolate quente, uma história com sabor de chiclete azedo, mas cheio de adrenalina, um beijo adocicado dos pais e o garoto exausto caiu no sono, que cheirava a mel e terra molhada.
Era assim que aquele rapazinho gostava de ver e sentir as coisas: tudo era o do sabor que o mundo dos cheiros e paladares deveria conferir. Tudo para tornar a aventura no parque de diversões ainda tão inexplorado, o mundo, algo mais condizente com o jeito que tudo deveria sempre ser.
O céu limpído da nova manhã tinha gosto de cereal do capitão pirata. Já,o nublado, tinha gosto de leite morno e biscoitos.
As margaridas tinha gosto de panquecas. Já, os girassóis, cheiravam à gambá, algo que o garoto nunca gostaria de provar.
A escola com os amigos tinha gosto de brigadeiro, daquele que alimentavam o coração. Já o dever de casa...ele nunca acharia um gosto que fosse tão ruim, talvez brócolis e feijão.
A mãe cheirava à mais bela flor do mundo. E, o pai, à bolo de festa.
E depois com o sono com sabor de mel e aroma de terra molhada, lá estava o garoto de pé novamente. Pronto para mais brigadeiro e brócolis, cereal do capitão pirata e chiclete de adrenalina, panquecas, chocolate quente, biscoitos, rosas e bolos de festa. E, ao final do dia azul claro, que, infelizmente, punha fim à mais um dia no parque de diversões, havia aquela velha e azeda ameaça da mãe, cujo gosto ele esperava nunca descobrir.
Ê saudade da infância! Hoje em dia parece que há muito mais gostos e aromas ruins do que bons. Mas acredito que tudo seja uma questão de tentar recuperar aquela antiga e alegria inocente. É difícil, mas é possível.
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Bruna Guimarães
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