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sábado, 19 de junho de 2010

Porta aberta


    A vida é uma só. E só a havia uma vida. Uma vida dura, rotineira e vazia. A vida entre quatro paredes.
    Acordar e ar de cara com um teto de concreto. Levantar e por os pés em um chão plano e frio. Olhar para os lados e só ver uma cor: a da parede cor de anil.
   Malhar observando uma paisagem paradisíaca pintada em um quadro pendurado na parede. Comer diante de uma televisão, que não mostrava muito mais do que um mundo cruel. E trabalhar horas a fio, novamente entre quatro parades.
  Só que um dia, havia algo estranho. Uma brisa mais forte e fria, um algo a mais, uma brecha na parede. Alguém havia deixado a porta aberta. E podia-se ver, pela brecha, um mundo cores vivas: verde, azul, marrom, laranja, vermelho; e um rol de cores que eu nunca havia visto - ou notado.
  Morava defronte a um bosque, e só agora havia percebido.
  Com cautela, aproximei-me do ambiente alheio, estranho, temendo um território que, há muito, a humanidade havia abandonado.
  Um pé para fora. Nada aconteceu.
  Outro pé. Um passáro assoviou inocentemente em uma árvore próxima.
  Haviam muitas árvores, uma modesta trilha e folhas verdes, vermelhas, amarelas e ressecadas caídas no chão, como um tapete da natureza que se estendia além. O tapete do homem, era apenas uma mera imitação.
  O cheiro era de nada, mas um nada de tudo, agradável, confortante e puro.
  E acima, havia um céu limpído, incrivelmente azul, o qual a cor, tinta nenhuma conseguiria reproduzir com perfeição. O teto de uma casa sem paredes. A tinta mágica da casa de Deus.
  Foi como se, pela primeira vez, eu pudesse ver tudo claramente; como se, finalmente, meus olhos houvessem encontrado a razão para existirem, meu nariz, para cheirar, e meus pés, para andar.
  Com medo de que o mundo sem paredes pudesse desaparecer, olhei cuidadosamente para trás, para o mundo que ainda tinha paredes - a prisão em que eu sempre havia vivido. Ele que parecia estranho agora, e tão cruel. Senti-me aborrecida, como se tivesse perdido todo o tempo do mundo com algo que não me valera muito a pena.
  Olhei para a frente novamente, para o lugar amigo e desconhecido que se estendia adiante e que, intuitivamente, eu agora tinha tanta vontade de abrigar.
  Tomei uma decisão inconsciente.
  Segui em frente. Sem mais olhar pra trás. E deixei a porta aberta, para que outros pudessem me seguir.

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